Sexta fui conversar com o diretor de uma das organizações que participo como voluntária. Foi um papo legal e no final ele me perguntou se eu toparia trabalhar com os pacientes de câncer jovens de um hospital em Washington, no início como voluntária, mas depois dirigindo o programa lá como staff.
Achei a ideia bacana, mas fui muito sincera com ele, disse que não me achava preparada. Ele demonstrou supresa...e foi logo dizendo que me achava a pessoa perfeita para o cargo por tudo que já havia feito na organização.
Então expliquei para ele que vistar os pacientes e ficar com eles no hospital é a parte mais fácil para mim. Fácil não seria exatamente a palavra, mas acho que é a parte que entendo melhor, afinal guardadas as devidas diferenças, passei por coisa parecida, então entendo os medos, as frustrações e a solidão que o paciente enfrenta. Por outro lado, não me acho preparada para enfrentar a parte prática da coisa, ou seja, conversar com o paciente sobre seus direitos, que aqui nos EUA são complicadíssimos, variam de estado para estado e de empresa para empresa. Para dizer a verdade, nem sei muito bem os meus, e vou descobrindo à maneira que vou precisando.
Expliquei para ele que me sentiria muito mal ao dar uma informação equivocada ou até mesmo incompleta para alguém que não tem nenhum tempo a perder e que precisa de tudo a tempo e a hora, pois um pequeno detalhe para uns pode ser a diferença entre a vida e a morte destes pacientes. Falei do caso do Mário, que está preso num imbroglio entre os governo federal e o governo estadual e cujo tempo aqui se torna mais escasso a cada dia. Eu entendo este senso de urgência, então sou muito alerta às necessidades. Acho que só um ombro amigo nestas horas não basta, o que o paciente precisa é de muito profissionalismo, muita competência, aliada à compaixão, é claro.
Ele não vê as coisas assim, acho que no fundo pensa que basta ter bom coração. Eles acham que fazendo maratonas e eventos estão lutando contra o câncer. Eu por outro lado entendo que só se pode lutar contra esta terrível doença em duas frentes: estando ao lado do paciente quando ele atravessa tantos problemas e tentando ajudá-lo a navegar o mar da burocracia ao mesmo tempo que oferencedo apoio emocional, ou fazendo pesquisa, se trancando em laboratório e correndo contra o tempo em busca de uma cura. Falando francamente, o resto para mim é balela!
Talvez um dia possa mudar de opinião ou até mesmo me empenhar para refocar minha carreira, com mais treinamento e estudo, é claro. Mas quando vejo um monte de gente vivendo esta fantasia narcisista, me lembro daquele velho ditado "De boas intenções o inferno está cheio." Nestas horas conta mesmo é competência e compaixão, de verdade.
1 comment:
Concordo plenamente, Dani. Amor e compaixão são importantes mas estar em mãos competentes nessa hora é fundamental.
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