Quanto mais tempo passa, menos me conformo com algumas coisas aqui. A questão do sistema de saúde então quase me mata de raiva. É a tal coisa do individual e do coletivo. A maioria das pessoas com quem converso -- fora do trabalho -- é contra o plano do Obama. O argumento é sempre o mesmo "A gente nunca sabe como ele vai mudar as coisas. Provavelmente vai aumentar o preço do meu plano para poder subsidiar a opção pública." Ou no caso dos idosos "Vai tirar dinheiro do Medicare para pagar plano para os mais novos." As palavras mudam, mas o argumento é o mesmo "Para mim está bem assim, então que se dane o outro!"
Talvez se minha vida tivesse tomado um rumo diferente, aliás o rumo planejado, eu pudesse me incluir no grupo "Não se mexe em time que está ganhando" ou "Tira a mão do meu bolso," mas felizmente ou infelizmente os desvios me levaram a um caminho diferente, uma trilha que me impede de ignorar o outro, ainda mais quando o outro está doente, quando o outro está necessitado.
Há algum tempo falei num post do plano de saúde que me rejeitou por causa da meu histórico médico. Para minha sorte, sou casada e tenho plano de saúde do meu trabalho antigo que pude manter a um preço decente, então minha história tem final feliz, por pura sorte.
Não tem final feliz porque eu trabalhei duro, porque eu estudei, porque cumpri com minhas obrigações, paguei meus impostos e sempre fiz tudo que era esperado de mim. A minha história tem final feliz não por mérito, mas pela mais absoluta sorte. E isto está completamente errado.
Hoje conheci o Mario, um boliviano que é cidadão americano e é das pessoas mais eloquentes e carismáticas que já vi. Ele está internado no hospital da Universidade de Maryland, onde eu trabalhei, e por coincidência, acabei indo visitá-lo. Ele tem leucemia e acaba de ter um recidiva, além disso ainda não encontrou doador compatível. (Os médicos duvidam que isto aconteça.) Então está participando de um teste clínico fase 1, sua única esperança.
É claro que a história é tocante, mas o mais triste não é ver uma pessoa doente é ver que além da doença ele tem que se preocupar com tantas outras coisas, pois o Estado de Maryland decidiu que se ele está pedindo ajuda para custear seu tratamento não pode se qualificar para licença-saúde. Não me façam perguntas porque eu também não entendo, mas é claro, me revolto.
Mario trabalhou na mesma empresa por 14 anos, sempre teve plano de saúde, previdência privada, etc. Só que ano passado a empresa faliu e ele foi gerenciar um restaurante, empresa familiar que não oferece benefícios e quando mais precisou, não teve ajuda. Contribuiu a vida toda e agora seus benefícios são negados.
É revoltante e ao mesmo tempo corta o coração ver um homem jovem e orgulhoso dizer "Nunca pedi ajuda de ninguém para nada. Nunca pedi auxílio-desemprego, food stamps, Medicaid e agora impedido de trabalhar os caras dizem que só podem me dar 350 dólares por mês. Quem vive com isto? Pago $1500 por mês na minha casa."
Aqui não tem Defensoria Pública,Procuradoria ou coisa do tipo, a única opção é encontrar um advogado que trabalhe pro bono e ajude o Mario a navegar este mar de ignorância e injustiça... O tempo não está a nosso favor, mas nunca desisti de acreditar em milagres.
Cada vez tenho mais certeza de que não é só o sistema de saúde que está errado aqui...
1 comment:
Oi querida.... e a gente pensa que na terra do Tio Sam tudo é perfeito, né? Quanta coisa temos aqui no Brasil e não damos valor. Mesmo assim, acho que precisamos, todos, encontrar um equilíbrio. Um beijo grande.
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