Parem o mundo porque eu quero descer! Agora! Neste exato momento!
Este país está me deixando enlouquecida! Em pensar que desde menina meu sonho era morar aqui... Como alguém pode ser tão ingênua! Provavelmente vou me arrepender do que escrever agora, mas preciso desabafar! Estou frustrada, irritada e louca para voltar para o TERCEIRO MUNDÃO!!! Mal posso esperar para sair daquele avião e passar pela Favela do Alemão a caminho da Linha Amarela! Vou-me embora para Pasárgada, como diria o grande Manuel Bandeira.
Não não sou amiga do rei, mas tenho TODOS os médicos à minha disposiçãoe e seus números de telefone na memória do meu celular: hepatologista, dermatologista, cirurgião-plástico, ginecologista, qualquer especialidade que imaginar.
Também tenho plano de saúde que resolve meus pepinos sem me mandar cartinhas antipáticas pelo correio. Tenho hospital particular que mais parece spa e amigos que me ligam a toda hora e nunca deixam de me visitar. Vou-me embora para Pasárgada!
Agora, brincadeiras à parte, sei que o Brasil não é nenhum paraíso e que tive muita sorte de poder ser bem assistida lá. Sempre penso que tive sorte de ter uma família que pudesse arcar com meu tratemento e de ter encontrado médicos dedicados, competentes e sempre dispostos a me ajudar. Quando os gringos me perguntam como são os hospitais no Brasil, tenho vontade de rir! Confesso que encho a boca para dizer "os hospitais do Brasil são melhores do que os daqui!" Está o Blake que não me deixa mentir. Até meus angio CTs, os médicos daqui nunca viram... Claro que no SUS é muito diferente, infelizmente, mas se pensarmos que aqui nos EUA praticamente não existe sistema público, então a comparação se sustenta.
Sinceramente, eu poderia ter escrito o roteiro do filme do Michael Moore. Detesto este povo liberal americano e o modo maniqueísta como eles abordam as coisas, mas que o sistema de saúde americano está falido, morto e sepultado, isto é a mais pura verdade. E o coitado do Obama não tem a menor chance de consertar esta nhaca.
A começar pelos médicos, que com raríssimas exceções, já deixaram de ser seres humanos há muito tempo. Não tem tempo nem nenhum interesse em saber da vida do paciente.
Aqui na maior potência do mundo, na Terra do Tio Sam, eu, por exemplo, não passo de "paciente do sexo feminino, 35 anos, HCC (hepatocellular carcinoma), duas resssecções hepáticas, em remissão." As consultas não saem nunca do script. A última, no melhor hospital do mundo, Johns Hopkins, vocês lembram, foi bem assim:
Sem olhar para minha cara, o médico entra e vai direto pro computador conferir as imagens que tinham acabado de ser feitas.
"Olá, tudo bem? Não tem nenhum tumor aqui. Que bom! Passar bem e até a próxima." "Mas peraí, doutor, lembra da nossa conversa da vez passada?
Ele me olha com uma cara de ponto de interrogação e pensa "Ué? Eu já te vi antes?" Mas é claro que não me diz nada. Espera para eu completar a frase.
"Lembra, doutor? Eu disse que queria engravidar, que já estava com mais de 30...caminhando para 35...
"Ah, sim, verdade. Então tá. Volte aqui em janeiro que a gente conversa. Tenha um bom dia."
Pois é, isto é a medicina americana. O médico nem toca em você, nem olha para sua cara. Para quê? Afinal tudo que ele precisa está ali, na telinha do computador. Quem precisa de paciente? Quem precisa examinar a barriga e tocar na cicatriz? Aqui nos States é tudo muito high-tech. High-tech demais.
Por incrível que pareça, nestas horas sinto muita saudade do jeitinho brasileiro.
Não vejo a hora de me mandar para Pasárgada!
3 comments:
Oi Dani, incrível!! Eu nunca imaginaria que a medicina americana fosse assim, e pensar que quase fui para Seattle fazer o meu transplante de medula, apesar que lá em Curitiba, os médicos seguem exatamente o modelo americano, são exxxxxtremamente sinceros, dão a autorização da sua autópsia para você assinar antes do paciente internar, imagine!!!!??? Eu quando recebí aquela autorização, comecei a rir, e meu irmão do lado falando , "ah, não vai acontecer com você!! mas não é um absurdo isso? imagine a pessoa vai internar para tentar se curar e de boas vindas recebe este presente. Ah, não sei se falei estou lendo olivro da Kriss Carr, e simplesmente adorando, que mulher, nossa!!! Me identifico muito com você e com ela, não as conheço pessoalmente, mas já gosto muito das duas!! Desejo muita, mas muita saúde mesmo para você em 2009 e que você consiga engravidar, eu como fiz o transplante é raríssimo acontecer, mas... o que importa é que estou viva e BEM viva!!
Beijosss.
Paula
Vem logo Dani, porque EU estou morrendo de saudades! Aliás, adorei essa história de engravidar, voltar em janeiro no médico... 2009 que nos espere!!!!
Paula,
Simplesmente ADORO seus comentáriso e fico feliz de ver que não só sou eu que acho estes médicos uns grossos! Sinceramente às vezes me dá vontade de fazer um PhD em comunicação na área de saúde só para escrever um tratado sobre este tema e quem sabe chamar atenção para o problema! Acho que muito médico deixa o bom senso em casa antes de sair pra trabalhar. A pergunta que sempre fica na minha cabeça é "Será que eles agiriam assim com o filho deles?"
Mas tudo bem, a gente superou e está aqui vivíssima pra contar a nossa história.
Legal que vc está adorando o livro da Kris. Ela é muito bacana mesmo!
Bjs e saúde!
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