April 8, 2009

O Desafio de Ser Normal

O maior desafio de quem recebe uma grande pancada é voltar a ser “normal”. Sei que há inúmeras definições para a palavra e muitos, como Caetano Veloso, são categóricos ao dizer que “de perto ninguém é normal.” Concordo com ele até certo ponto, mas para simplificar as coisas, acredito que ser normal é acordar todo dia e enfrentar todo o tipo de situação que vier pela frente. Ser normal é ter problemas e alegrias, é ter relacionamentos, amigos e família e ter dias bons e dias ruins. Ser normal é ser diferente de tudo, ser normal é ser a gente mesmo.

É por estas e outras que o termo “sobrevivente” não me cai muito bem. Quando penso na palavra, me lembro do filme “Sobreviventes dos Andes”, imagino sobreviventes de um naufrágio ou de um acidente terrível. Imagino também que os tais sobreviventes vão ter que lidar com o trauma para o resto da vida, o que possivelmente os impossibilitará de um dia poderem voltar a ser normais. E é exatamente o que eu quero para mim. Deixo a sobrevida para os desesperados e para as estatísticas médicas sombrias. Prefiro me agarrar a minha vida, que mesmo imperfeita, é a única que me pretence e é só minha, por isto vou para sempre chamá-la de vida.

Não vou mentir e dizer que às vezes não me bate um medo de não poder estar aqui para completar muitas coisas que me dispus a fazer. Principalmente nas semans que antecedem os exames de controle este medo se torna mais real, pois entendo perfeitamente que a minha vida pode mudar num piscar de olhos. De repente o verdadeiro trauma é este, é simplesmente não poder ser mais a jovem arrogante que acreditava ser imbatível, é carregar o peso da mortalidade e se confrontar com ela a cada três meses. Não deveria ser assim, afinal a morte é a única certeza que temos, mas a proximidade dela incomoda demais. Não quero que ela seja minha companheira de jornada. Prefiro a distância. E quando ela vier, espero que seja uma visita rápida e inesperada.

Confesso que sou egoísta e peço, e imploro a Deus, que me dê a oportunidade e o tempo suficiente para concretizar meus sonhos. Não sonho mais em acertar a mega-sena (até porque nem jogo!) ou em virar celebridade (esta bobagem ficou na adolescência!). Sonho em ter filhos e poder acordar saudável para levá-los à escola todos os dias. Sonho em ver o meu marido ajudando-os a fazer o trabalho de casa e meus pais brincando com eles, aqui e no Brasil. Sonho também e peço a Deus que eles tenham a oportunidade de conhecer meus avós, que foram verdadeiros pais para mim e meus irmãos. Sonho com um mundo mais justo e tento fazer a minha parte. Sonho ainda em poder ajudar os que mais precisam, aqueles que não tem voz, ou dinheiro, ou saúde.

A doença pode ter me tirado muita coisa, mas deixou a minha habilidade de sonhar intacta e sendo assim, acho que continuo sendo uma pessoa normal, que cai, levanta, chora e esperneia, mas continua levantando todos os dias pronta para novas alegrias e novos desafios. Pronta para levar uma vida muitas vezes ordinária e ao mesmo tempo feliz, mas acima de tudo, completamente normal.

4 comments:

camila said...

Oi Dani,

Ja leio seu blog ha muito tempo, mas acho que so tinha comentado antes uma so vez, tambem ha muito tempo. Cheguei aqui atraves da Claudia. E, olha como esse mundo e pequeno, na epoca do meu casamento, em 2006, conheci, por acaso, sua amiga Daniela Mirella la no Rio. Muita coincidencia ne?

Mas eu hoje resolvi comentar porque esse post parece que foi escrito pra mim. Eu sempre saio daqui do seu blog com uma sensacao muito boa. Admiro muito sua forca, sua leveza, sua lucidez. Muitas vezes, quando estou passando por uma fase dificil, me lembro das suas palavras. Ontem a noite, por acaso, estava comentando com meu marido sobre voce, sobre seus textos, e falei que tinha muita curiosidade em saber como voce se sentia depois de tudo que voce passou, de como voce lidava com o medo. E esse texto foi perfeito.

Bom, so queria dizer que adoro vir aqui, e sempre aprendo com voce.

Um beijao!

Dani said...

Camila,

Seu post me deixou tão contente! Às vezes me pergunto se não deprimo as pessoas ao me questionar tanto, mas aí recebo uma mensagem como a sua e percebo que você me entende, que você sente que não estou me queixando da vida, que às vezes só estou precisando de um espaço para arrumar meus pensamentos.

Obrigada mesmo pelo carinho; seu post realmente me tocou o coração!

Mudando radicalmente de assunto, este mundo é mesmo um ovo! Você conhece a Dani Mi? Ela mora no meu coração! A teoria dos six degrees é bem verdadeira, né?

Beijos e mais uma vez obrigada! Continue comentando por favor!

Isabella said...

Oi Dani, eu não ando numa fase muito boa... Não sei exatamente o porquê... Na verdade sei, só não estou sabendo como lidar com o que aflige.
Sempre me lembro de vc tb e da ótima energia que vc transmite. Se tem uma coisa pela qual sou grata, é pela minha saúde, que faz poder ser grata por tudo mais que tenho, como o meu Filhote : )
Seus posts são muito bons, não deixe de escrevê-los!
bjs

Dani said...

Isabella,

Obrigada pelo carinho. Acho que a energia é recíproca, pois o seu post me deixou muito feliz.

Às vezes a gente entra numa fase mais chatinha e mesmo sabendo o que nos afeta, tem dificuldade em lidar com o problema, mas isto passa. Aliás tudo na vida passa, é isto que tenho aprendido a cada dia.

Você está certíssima de agradecer pela sua saúde e pelo seu filhote, as coisas que mais importam na vida.

Bjs e obrigada