Continuo levando a diante a idéia de coletar depoimentos de pacientes de câncer. Já conversei com amigos que enfrentaram a doença e por enquanto a receptividade tem sido excelente. Todos concordam que a doença é uma experiência íntima e pessoal e por mais apoio que tenhamos da família e dos amigos, só quem "sofreu na pele" entende como um paciente de câncer se sente só.
A idéia é justamente tentar diminuir esta solidão que afeta a gente desde o diagnóstico. Outra coisa que senti foi que tinha muita coisa segmentada para determinados tipos de câncer: campanha de câncer de mama, campanha de câncer de pulmão...e aos invés de "unir" as pessoas afetadas pela doença, estas coisas acabam segregando. A gente não consegue se ver no caso da fulana que teve câncer de ovário ou do beltrano que desenvolveu a doença nos rins. Mas no final é tudo a mesma coisa! Pouco importa se o fulana teve câncer no ovário, pouco importa se ela perdeu cabelo ou não, se fez químio, se fez rádio! O que importa mesmo é que ela ou ele ouviram aquelas palavras duras e como cada um reagiu. Ela chorou? Ele se revoltou? Se apegou mais ainda a fé? Continuou ateu?
São justamente estes questionamentos que quero incluir. Não quero julgar ninguém, até porque depois de passar por esta experiência aprendi que não há fórmulas mágicas... Aprendi que cada um enfrenta o problema da melhor forma que encontra. E é isso que torna cada história única e interessante.
Ontem "conheci" o Daniel, primo da minha amiga Ilene. O Daniel é um cara de fibra que vive com uma forma de câncer rara, ao que me parece. Não entrei nestes detalhes com ele, já que o meu interesse era saber como ele vive o dia a dia, como ele encara a "nova realidade". E para minha grande surpresa o Daniel me confessou que era ateu! Como assim? -- foi a primeira coisa que me veio a cabeça. Pois nunca consegui entender mesmo como uma pessoa podia não acreditar em absolutamente NADA. Toda vez que alguém se dizia ateu eu perguntava "você já viveu uma situação de vida ou morte?" e a resposta era sempre não. Então eu dizia, quando isso acontecer a gente volta a conversar.
Mas aí veio o Daniel e sepultou a minha teoria! Ele aceita o budismo como filosofia de vida mas diz que não precisa acreditar em um ser superior para se sentir bem. Ele diz que aceita a realidade e vive. E está aí mais uma história que merece ser contada. E o mais legal é que ele topou dividir isso! Então é mais um depoimento de uma pessoa inteligente e cheia de vida que atravessa uma fase difícil, mas continua querendo compartilhar. É mais um corajoso que topou se expor para que outros não se sintam tão sozinhos assim.
O grande mote do livro é que câncer é doença de gente! De todo tipo de gente: gente jovem e gente velha; gente religiosa e gente que não crê em nada; gente rica e gente pobre; gente otimista e gente pessimista! No final dá no mesmo: câncer de mama, câncer de fígado, linfoma, melanoma... A idéia é dar uma cara humana ao que muita gente acredita ser um monstro e descobrir que apesar de assustadora, esta pode ser a experiência mais incrível na vida de uma pessoa.
No meu caso foi assim. Sempre disse aos médicos que me conseiderava uma felizarda por ter desenvolvido um câncer raro aos 28 anos...e obviamente mais ainda por ter vivido para contar esta história! Depois do que passei, minha vida mudou 100%... Foi uma coisa absurda, tudo começou a dar certo e coisas que nunca havia imaginado para mim acabaram se realizando...como esta foto que abre o blog. Nunca mais deixei de dar importância ao que realmente importava...nunca mais deixei de ver a beleza das coisas que estão a minha frente. Esta foi uma das grandes lições que aprendi no meio de tanta adversidade.
1 comment:
Parabéns pela idéia,se precisar de colaboradores pode contar com meu depoimento,Smacks:)
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