September 18, 2007

Ya-Ya Sisterhood ou Irmandade Ya-Ya...sei lá

Sempre digo que quem viveu uma experiência com câncer se torna uma pessoa especial. Parece que depois da "pancada", você ganha uma estrelinha um passe especial que dá direito a entrar nesta "irmandade" poderosa e especial. Não é para qualquer um não...É só para os escolhidos.

A Lu, minha amiga e ex-coloega de trabalho, é VIP nesta fraternidade. Já falei dela aqui, quando disse que antes da minha "experiência" ela era só mais um rosto conhecido no refeitório, mas depois que fomos "conectadas" nos tornamos bem próximas. A gente não se vê com muita freqüência -- ainda mais agora!!! -- mas isto não importa. A internet está aí para isso...

Aqui vai uma parte do email que recebi dela hoje, que comprova minha teoria sobre como o câncer torna as pessoas semelhantes. Não vou colocar a mensagem toda sem pedir permissão a ela, mas esta parte aqui já dá uma idéia do conteúdo da mensagem.


Oi, Dani,
Li seu blog e uma das coisas que acho fascinante é a similaridade que o cancer traz, essas suas palavras:
"Por incrível que pareça, o câncer foi uma das melhores coisas que já me aconteceram... Foi algo que realmente transformou a minha vida e me fez ver várias coisas de um modo completamente diferente. Como já ouvi antes, não digo que o câncer foi um presente porque realmente não ofereceria a ninguém se tivesse escolha, mas para mim o câncer foi um importante catalizador. E sou muito grata por ter vivido esta experiência que me transformou na pessoa que sou hoje."
Poderiam perfeitamente ter sido escritas por mim, sem mudar uma única vírgula. O sentimento de gratidão que poucas pessoas entendem é muito forte. Gratidão por ter tido a oportunidade de aprender em um ano como se tivesse vivido mil.



E aqui vai a minha resposta para ela:


Lu,

Que legal que você leu!

Pois é, por isso que eu queria muito reunir estes depoimentos de pessoas que viviam/vivem realidades tão diferentes, mas se tornam tão parecidas quando são tocadas por algo tão forte. Não há quem não mude depois de viver uma experiência dessas.

Toda vez que escuto uma história sobre câncer é difícil não me imaginar no lugar da pessoa. Difícil de explicar mas é como se fizéssemos parte de uma fraternidade meio secreta que está espalhada pelos quatro cantos do mundo. Eu, por exemplo, nunca fui muito com a cara da Ana Maria Braga; achava ela chata e sem graça. Depois que ela ficou doente e superou tudo com uma garra fenomenal, tenho o maior respeito por ela. Acho que foi você que disse uma vez que sempre que vê a Ana Maria Braga ou a Patricia Pillar, fica feliz. Feliz de ver que elas continuam por aí, como nós. Também me sinto assim, meio parte da "irmandade".

Domingo, fiquei um tempão conversando com o primo de uma amiga, que há anos luta com uma doença rara. O cara tem uma fibra absurda. É meio calado...é adepto da filosofia samurai e do budismo, mas quando falamos das nossas experiências e como encaramos etapas do nosso tratamento, notamos que passamos por coisas muito parecidas e saímos modificados. Fiquei meio ressabiada de pedir o depoimento dele...meio calado, ainda em tratamento sério, mas arrisquei. E ele adorou a idéia. Disse que vai ser bom pra ele também.

Está sendo bom pra mim colocar isto tudo pra fora. Está sendo muito difícil, é verdade. Bem mais que imaginei. Às vezes até me pergunto se vale a pena "cutucar"a ferida que está lá quietinha. Mas então me lembro de tudo que passei e da solidão que sentia e da minha fragilidade...especialmente quando pessoas ignorantes me diziam coisas muito duras, talvez até com o intuito de ajudar (???). Naquela época, resolvi que só ouviria e levaria a sério quem tivesse passado por experiência semelhante. Ouviu dizer que câncer de fígado mata quase em 100% dos casos? Que quimioterapia é a pior coisa do mundo? Que paciente de câncer tem os dias contados? Guarde estas informações para você!!! Porque eu não quero saber!!!!!

Mas quero saber de quem passou por isso... Como foi a sua experiência na químio/rádio? Foi diferente da minha? O que você sentia? Em algum momento você se desesperou? Como você recebeu a notícia? Em que "momento"da sua vida você estava? Em crise? Muito feliz? Qual foi a primeira coisa que lhe veio a cabeça? Como a sua família reagiu? Você criou um "plano de ataque"? Como você encarou o tratamento? Seguiu à risca ou discutiu com os médicos? Qual foi a reação dos médicos? Se apegou mais à fé? Usou alguma "terapia alternativa"? Viu resultado? Qual foi a lição mais importante que você tirou disso tudo? São tantas perguntas...

Enfim, quero ouvir a voz de quem passou por isso, por esta experiência "'íntima e pessoal"... e quero que outras pessoas que, infeliz ou felizmente, vão viver coisas semelhantes possam perceber que não estão sozinhas. Entedeu?

Então é por aí... Às vezes me pergunto por que demorei tanto agir, mas acho que inconscientemente estava esperando este marco dos "cinco anos", pois foi mais ou menos o que os médicos me disseram. Acho que chegou a hora!

Continue escrevendo, Lu. Escreva lá no blog também... Vou começar a passar pros amigos... Estou buscando idéias ainda...

Mandei um email pra Carla semana passada, mas acho que ela só volta dia 6 de outubro. Felizarda! Curtindo férias merecidas em Noronha... Paraíso!!!

Beijos e fique com Deus,

Dani


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