Em outubro celebrarei meu quinto aniversário. É verdade, estou curada!!! Parece um sonho! Faz algum tempo que eu queria fazer as pazes com tudo que me aconteceu no final de 2002. Já li algumas coisas na internet; já flertei com a idéia de fazer trabalho voluntário em alguma ONG ligada ao câncer – já até dei uns telefonemas mas não fiz muito progresso. Acho que na verdade ainda não descobri o que quero fazer.
Por incrível que pareça, o câncer foi uma das melhores coisas que já me aconteceram... Foi algo que realmente transformou a minha vida e me fez ver várias coisas de um modo completamente diferente. Como já ouvi antes, não digo que o câncer foi um presente porque realmente não ofereceria a ninguém se tivesse escolha, mas para mim o câncer foi um importante catalizador. E sou muito grata por ter vivido esta experiência que me transformou na pessoa que sou hoje.
Depois de muito pensar, cheguei à conclusão que a coisa mais assustadora em relação ao câncer é o fato de que a doença é uma jornada muito solitária. Seus pais estão sofrendo, sua família está machucada, seus amigos estão tristes...mas nada pode tirar a doença de você. É uma experiência extremamente pessoal. As pessoas tendem a colocar várias doenças no mesmo “bolo” e chamar tudo de câncer...mas os tipos de doença, os tratamentos e as experiências são tão diferentes!
Me lembro que quando descobri que estava doente que queria tanto encontrar alguém que tivesse passado pela mesma experiência. Talvez tivesse esperança que esta pessoa pudesse me dar um “mapa da mina” ou que pudesse me preparar para o que vinha a diante ou talvez pudesse esclarecer algumas das tantas perguntas que me vinham à cabeça. Procurei, perguntei a amigos e conhecidos...e não achei ninguém. Sensação ruim. Me senti só. Senti medo. Me senti vulnerável.
Se aqui nos EUA podem-se encontrar milhões de livros sobre cancer, no Brasil é bem diferente. Há pouquíssimos títulos disponíveis. A maioria é literature médica, que além de assustadora é de compreensão impossível para uma simples mortal.
Mais tarde descobri que não era a única a me sentir assim. É incrível como Deus (re)une as pessoas... Pouco depois do meu diagnóstico, soube de outros casos da doença na empresa que eu trabalhava e obviamente fiquei muito curiosa para conhecer essas pessoas e saber mais das experiências de cada uma delas. Colegas de trabalho que eu via ocasinalmente no refeitório de repente se tornaram minhas mais novas amigas...minhas “irmãs no câncer”.
Aprendi tanto com elas... Comparávamos nossas histórias, dividíamos nossas experiências e confissões...tendo a certeza que seríamos entendidas e formando laços que jamais poderiam ser desfeitos.
E ultimamente tenho me sentido compelida a dividir estas histórias com outras pessoas, que podem estar agora no mesmo lugar onde eu estava há cinco anos, e podem estar assustadas por não ter com quem falar...ou talvez estas pessoas não tenham ninguém para lhes dizer que este tipo de coisa acontece, mas que elas podem superar, como tantas de nós por aí a fora.
Vou começar a compilar estas histórias de vida e de sobrevivência e colocá-las aqui no blog. Talvez elas sirvam para inspirar outras pessoas, ou pelo menos fazê-las sorrir de vez em quando.
Sei que este terreno é totalmente desconhecido para mim…e não faço idéia de onde esta jornada vai me lever. Só sei que já estou a caminho.
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