February 5, 2010

Blue Jean Ball





Os post vai atrasado, mas vale a pena falar da festa do fim de semana passado.

Quando cheguei a Maryland, logo procurei grupos de apoio a jovens portadores de câncer. Queria ser voluntária e ao mesmo tempo encontrar gente que tivesse algo em comum comigo, de verdade.

O tempo foi passando, me envolvi com a American Cancer Society, que era pertinho de casa e esqueci do assunto. Até que a doença resolveu dar as caras mais uma vez... E durante uma das visitas a Hopkins, vi algo sobre o Ulman Cancer Fund e sobre os Imerman Angels. Resolvi pesquisar mais na internet e acabei mandando um email para os Imerman Angels, através do site deles.

Para minha surpresa, no mesmo dia recebi um email do Jonny, o fundador da organização que assim como eu tinha sido surpreendido pela doença não uma, mas duas vezes. Falamos por horas e parecia que nos conhecíamos a vida toda. (Depois percebi que não é privilégio meu, o Jonny é assim com todo mundo.) O cara é do bem mesmo! Topei ser voluntaria dele na hora e dali para frente comecei a receber ligações e emails de pacientes que tinham problemas semelhantes aos que eu tinha tido no passado. E como câncer de fígado é raro e muito agressivo, há bem poucos voluntários, então acho que acabo com praticamente todos.

A organização do Jonny é sediada em Chicago, mas tem alcance mundial. O banco de dados dele "casa" pacientes e sobreviventes com o mesmo tipo de doença e que falem a mesma língua. Ele me disse até que há alguns que falam português.

Por ser uma organização tão bacana, eles trabalham com várias outras, inclusive com o Ulman Cancer Fund e foi através de um email do Jonny que resolvi ir a um evento do UCF e entrei para a organização. Desde então, o Jonny tem vindo para Maryland algumas vezes por ano e a gente sempre se encontra. Às vezes visita pacientes juntos, às vezes vai a festas, mas é sempre bom vê-lo e saber que os Imerman Angels estão cada vez mais fortes e mais numerosos.

A cada ano, durante a festa beneficente, o Ulman Fund premia indivíduos e organizações que fazem a diferença junto a jovens adultos portadores da doença. E este ano, merecidamente, o Jonny foi o ganhador do Hope Award, ou seja, Prêmio Esperança, que é dedicado a profissionais nas áreas de saúde, psico-social e de engajamento social que demonstram paixão por lidar com assuntos pertinentes às necessidades de jovens adultos portadores da doença. No dia a dia, eles oferecem esperança e compaixão aos adultos afetados pelo câncer.

Prêmio mais que merecido, mas o que eu não esperava é que me pedissem para gravar um depoimento sobre o Jonny, o que fiz obviamente com o maior prazer, pois o cara é 10! Até o Blake que às vezes é mais crítico e sempre mais observador que eu, gosta muito do cara. A gente sente que ele realmente se importa com os pacientes e milita muito pela causa. Desnecessário dizer que foi uma honra falar do Jonny e do seu trabalho à frente da organização.

E o mais tocante disto tudo é que quando a gente aceita ser voluntário, imagina que está fazendo a nossa parte ao ajudar alguém. O que a gente não percebe no início é que no final acaba sendo ajudado. Faz parte da jornada de cura cuidar da ferida alheia também. Uma palavra amiga, um gesto de carinho...tudo isto faz um bem enorme ao outro, mas tem um efeito ainda maior em nós. Quando a gente aceita ser "anjo" acha que vai acolher o outro, mas volta e meia acaba surpreendida ao perceber que mesmo sofrendo tanto, no meio de tanta dor e de tanta incerteza, esta pessoa acaba conseguindo te consolar...e os papéis se invertem, ela passa a ser seu anjo.

O trabalho voluntário é assim, transforma duas vidas ao mesmo tempo, pois ao contrário do que se pensa, não há papéis definidos -- todas as partes ajudam e são ajudadas, numa simbiose harmônica, também conhecida como solidariedade.

Muitas vezes a gente pensa no que a doença tirou de nós ou no trauma que ficou, mas esquece de perceber o que ela nos deixou de bom e no que ela transformou dentro da gente. Como diz a minha amiga Lu, que teve um linfoma agressivo mas agora está perfeita, o negócio é não deixar o efeito da pancada passar e jamais esquecer do que realmente vale a pena.

2 comments:

Cristina said...

Oi Dani!
Adorei o título do post, as fotos e o que vc escreveu. Entrei de férias agora e vou ficar a próxima semana off, mas depois volto aqui, tá? beijão e bom findi (vou ver se vejo a Mich e as meninas sabado - segunda subo para a serra com minha mãe)

Margot said...

amei teu modelito :-)