No final do ano passado, a organização do Jonny me pediu para conversar com duas mulheres que tinham acabado de descobrir câncer no fígado, em estágios avançados. Como câncer no fígado é raro e muitas vezes letal, não existem muitas pessoas que ficaram para contar a história, então praticamente todos os casos da doença vem parar comigo. Há vários tipos de câncer no fígado e a grande maioria não se origina lá, mas chega ao órgão como metástese. Há também os casos de doença causados pela cirrose ou pela hepatite C, que não tem nada a ver com a doença que eu tive, mas como não falo na condição de médica, mas de ser humano e de paciente, nunca me nego a conversar com ninguém e falar um pouco da minha experiência.
Foi assim que comecei a conversar com a Mary, uma mulher de 40 e poucos anos, mãe de três filhos que se mudou da Florida para a Califórnia por conta do trabalho do marido. Pouco depois da mudança para o outro lado do país, descobriu a doença. Soube que o corpo estava tomado por tumores agressivos, mas o que nenhum médico até hoje pode lhe responder foi onde a doença foi originada. No início acharam que fosse no fígado, depois no seio...Agora aceitaram que não sabem mas continuam o tratamento agressivo.
A surpresa quando converso com estas pessoas é a tranquilidade que elas me passam. E com Mary não foi diferente. Ciente da sua condição séria, ela seguia firme na sua opção por viver.
O fim do ano foi complicado para mim -- muito trabalho e viagens -- e não tive notícias da Mary por um tempo. Então com um certo receio, mandei um email para ela, confesso que já me preparando para notícias não tão boas.
Quase que na mesma hora, recebo um de volta.
Dani, achei um médico aqui na miha cidade e comecei a químio imediatamente. Passei por uma transfusão de sangue e até aprendi a me dar injeções de neupogin!... Mas estou feliz de te dizer que fiz o pet scan há poucas semanas e só me restam dois tumores pequenos -- Graças a Jesus!!! (O maior tem 3.4 cm e está necrosado e o menos -- de 1 cm -- espero qie tenha explodido depois da químio de semana passada.) Dani, segurei a minha cruz durante o exame, você deveria fazer o mesmo! Milhares de orações para você --- tudo vai dar certo!"
E mais uma vez, sinto que quem mais sai ganhando com qualquer tipo de trabalho voluntário e quem o exerce, não quem supostamente teria que receber a ajuda. Cada vez que recebo a missão de "consolar alguém", sou eu que acabo sendo "consolada." Sempre que me pedem para dar força a um paciente, sou eu quem acabo mais fortalecida.
Acho que depois de tantas perdas ano passado, involuntariamente já começo a me preparar quando sei de algum caso mais complicado, mas então mais um vez sou surpreendida quando observo uma melhora milagrosa.
É incrível perceber que alguém que enfrenta com tanta coragem um caso tão difícil ainda encontra espaço em seu coração para me incluir em suas orações... É nestas horas que a gente se sente pequena demais....
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