Hoje a Cris me mandou uma entrevista do nosso vice-presidente publicada em setembro na Veja. Nao canso de dizer aqui: e impossivel nao se emocionar com a coragem e a lucidez deste homem.
Estranho pensar que tenho tao pouco em comum com ele, mas o entendo tao bem. Suas palavras sempre tocam meu coracao e me inspiram constantemente. Quando imagino ter passado por grande dificuldades e volta e meia me sinto tentada a ter um pouco de pena de mim, quando as coisas nao saem exatamente como havia planejado, me aparece alguem que de alguma forma me chama de volta a realidade e me mostra o quanto tenho tido sorte nos ultimos tempos, mesmo com as minhas cirurgias, mesmos com meus exames, mesmo com meus medos e meus dramas, a sorte, que para mim tambem atendende pelo nome Deus, tem sido companheira constante.
Ao contrario de Alencar, que diz nao saber o que e angustia, este sentimento muitas vezes me incomoda bastante. A incerteza de nao saber que poderei realizar coisas banais ou mundanas e a constante lembranca disto sao como ferida aberta, latente que puxa e machuca. Uns dias machuca mais, outros menos e ha ainda aqueles dias particularmente felizes quando nem me lembro que ela existe. Tomara que esta angustia siga o mesmo caminho da enorme cicatriz da Mercedes que levo na barriga: pode ate chocar os outros, mas para mim e imperceptivel.
Mas assim como o nosso vice, aprendi muito com a doenca e acho que a humildade foi um dos grandes ensinamentos. Concordo plenamente com a ideia dele de que a humildade e desenvolvida naturalmente no sofrimento, ao percebermos quao pequenos somos neste universo tao imenso. Me lembro bem que quando tomei consciencia disto pela primeira vez estava dentro do chuveiro sendo ajudada pelas enfermeiras que me seguravam para que eu pudesse me lavar. Depois de dias no CTI, imovel, sendo lavada pela equipe de enfermagem, enfim estava no quarto e podia sair do leito. Uma conquista tao pequena, mas oa mesmo tempo tao grandiosa.
Logo eu, sempre tao independente e auto-suficiente, ali, entregue a compaixao de outras pessoas. Poderia ser constrangedor, mas nao foi. Nao foi porque deixei meu ego de lado e entendi que um dia todo mundo precisa de ajuda e que tinha tido sorte de poder ser atendida por pessoas tao dedicadas. A humildade nasce sim do sofrimento, nasce da incapacidade, da necessidade. E depois ela fica com a gente, como lembranca de que somos limitados, de nossa mera condicao humana.
Tenho uma amiga que teve cancer ha muito tempo. O caso foi gravissimo, mas felizmente ela se curou e esta mais viva e saudavel do que nunca. Quando fala da doenca, ela sempre diz que pede a Deus pra nao esquecer dos ensinamentos. “Peco a Ele que me mantenha saudavel mas que jamais me deixe esquecer da ‘porrada’. Sinto que aos poucos as coisas vao se apagando da minha memoria, mas entao me forco a relembrar tudo que vivi, so para poder ser grata e apreciar o que tenho hoje,” ela sempre diz. Nao poderia concordar mais com ela.
Ha dois anos eu fazia este mesmo pedido e perguntava a Deus como fazer para nao deixar que tantos ensinamentos fossem esquecidos. Pedia a Ele que me desse um aviso de como deveria viver o resto dos meus dias: colocando tudo que tinha passado de lado ou se usando a minha historia para ajudar outras pessoas que pudessem precisar de apoio e alento. Me questionei muito durante alguns meses. A resposta, que eu jamais esperava ou desejava, veio pouco tempo depois, na forma de um tumor de seis centimetros.
Definitivamente nao era o que eu queria. Alias, pensando bem, era sim, era a certeza que eu precisava, mas nao desejava que a minha vida fosse virar de ponta a cabeca mais uma vez.
Hoje, mais do que nunca, peco que a humildade me acompanhe sempre. Confesso que nao e tarefa das mais faceis, entao e por isto que volta e meia um puxao de orelha, na forma de entrevista, email, ou uma simples coversa franca, e mais que bem-vindo a qualquer hora. Forca a gente a entender o que e real. Faz com a gente fique mais "gente".
2 comments:
Oi Dani,
Lindo texto, como sempre!! Ele deu uma entrevista para Marilia Gabriela domingo passao, tenho muito em comum também, principalmente quando ele cita que quando o chamam de corajoso, ele pensa, "que coragem é esssa?" foi a única opção que tive!!
Eu sempre disse isso para todos que me achavam corajosa, adorei a entrevista, deve estar disponível no youtube.
Beijos querida!!
Paula,
Obrigada pelo carinho de sempre. Nestas horas lembro daquela entrevista que vc me mandou do diretor na Abrale, quando ele diz que desesperado se agarra ate em navalha!
Entendo o seu questionamento sobre a coragem e a falta de escolha muito bem...
Bjs
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