November 30, 2009

Escrever para quem?

Desde muito pequena escrevo. Sempre escrevi, em diários escondidos embaixo da cama ou no fundo do armário, nas folhas de papel almaço para as redações da escola, nas provas de história ou nos concursos literários...sempre dei um jeito de incluir as minhas palavras e exprimir meus pensamentos de alguma forma, sempre que havia chance.

Escrever para mim sempre fácil e natural, mas de alguma forma eu sentia que faltava alguma coisa na minha escrita. Não que as minhas palavras não tivessem alma ou substância, ou até sinceridade. Gosto de pensar que elas sempre tiveram estas qualidadades, mas lá no fundo acho que o que me faltava mesmo era coragem. Coragem para me expor, para me desnudar e coragem para assumir que escrevo para mim, num ato egoísta e catártico.

O mais difícil para um escritor é manter a honestidade. É claro que sempre pensamos no leitor, mas a partir do momento que mudamos a nossa história com este leitor em mente, deixamos de ser nós mesmos e enganamos aquele que nos lê. Entendo que quem lê não-ficção está em busca de verdade e quer saber o que se passa na cabeça -- muitas vezes atormentada -- do narrador. Este leitor procura o real e confia no autor por isto. Quando o autor impõe filtros e análises, ele priva ao leitor e a si mesmo.

Uma vez li que a primeira forma de censura era o ato de reler uma carta. Desde então, freio meu impulso de reler o que já foi escrito. Claro que não quero que erros de datilografia ou de gramática sejam ruídos na minha mensagem. Mas também não quero que a minha mensagem se perca no meio de tanta técnica. Procuro rapidamente por erros superficiais e propositalmente ignoro o teor do texto. Assumo o papel de editor, ou melhor, de copy-desk, me tornando invisível.

Como autora, escrevo para tentar entender a mim mesma. Escrevo para tentar tocar a alma do outro. Mas entendo que só posso tocar o outro de verdade se estiver sendo honesta comigo mesma. Então aos que me perguntam para quem eu escrevo, a resposta é uma só: escrevo para mim, para me liberar, para me explicar e para me entender. E espero desta forma poder tocar o outro.

3 comments:

Roy Frenkiel said...

O escritor que escreve para os outros nao sei se seria escritor, e sim obreiro por encomendas =P

Ando pensando no seu blog esses dias, e acho q nao ficarei sossegado ate os resultados do exame de sangue chegarem...

bjx

RF

Dani said...

Roy,
Concordo com vc...já basta escrever sob encomenda no meu trabalho de segunda à sexta no mundo pseudo-corporativo. Mestre-de-obras da escrita nao dá!!!
Bjs

Roy Frenkiel said...

Td tranquis ;-)