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January 3, 2008

O Medo

Se alguém me perguntar qual é o meu maior medo, num piscar de olhos diria: uma nova cirurgia hepática! Sei que há coisas muito piores na vida, mas para mim, baseado em tudo que já vivi, este sempre foi o meu maior temor. Talvez por trauma gerado pela última cirurgia que durou 11 horas no centro cirúrgico e uma eternidade na minha cabeça. Teve todas as complicações possíveis, ou quase: choques hipovolêmicos, absessos, derrame pleural, idas e vindas de hospital, muitas e muita agulhadas e furos e longos períodos de internação. Logo eu, que sequer tinha passada uma noite no hospital, fiquei lá por quase um mês que parecia não acabar nunca!

Mas a lição que ficou é a mais simples possível: na vida tudo passa e nestas horas a gente acha forças que nunca imaginava ter. E é aí que chego à minha parte favorita: superação. Acho a capacidade de superação uma das coisas mais emocionantes no ser humano. Não consigo conter minhas lágrimas quando ouço uma história dessas. (Inclusive há algumas neste blog.) Quando ninguém esperava mais nada, eis que o sujeito renasce como uma fênix e vence a corrida. Quando tudo parecia perdido, os amigos dão um jeito e levam um menino doente para uma road trip e atravessa os EUA num trailer adaptado. Quando os médicos já não têm mais soluções parar a menina, ela resolve encarar o câncer de frente, inventa uma dieta doida, larga o emprego, escreve dois livros de sucesso e aparece na Oprah!

Só de escrever estas linhas meus olhos se enchem de lágrimas e aí até me lembro o motivo que me levou a querer ser jornalista desde pequena. Também entendo perfeitamente o que me fez desistir (ao menos temporariamente) da profissão: não quero contar as histórias aterrorizantes do dia a dia, não quero escrever sobre o "cachorro que morde o homem", não quero ficar presa a enredos sensacionalistas que vendem jornal. Quero escrever sobre o que faz o homem diferente dos outros animais irracionais; quero escrever sobre gente que serve de exemplo e inspiração para os outros, sobre gente que supera limites, gente que se supera. Não quero contar histórias de corrupção e covardia, mas quero falar de amor e coragem.

Acho que deveria tomar para mim o conselho que Pablo Neruda deu a Isabel Allende depois de uma entrevista. Ele disse a ela que repórter que quer ser muito criativo não deveria ser repórter e sim escritor. Não me lembro muito bem das palavras exatas (li o Livro Paula, em que ela relata esta cena há muitos anos), mas o sentido é esse. Acho que também serve para mim, a repórter que se recusa a falar do "mundo cão" e que obviamente não se encaixa muito na maioria da mídia sensacionalista de hoje.

Mas o objetivo de hoje não era falar de mídia e sim de coragem. Como sempre digo que vejo mensagens em todo lugar, outro dia na igreja que a família do Blake freqüenta, o pastor mostrou trechos do filme Evan Almighty, não sei o título em português, mas é estrelado por Steve Carell (do The Office) e Morgan Freeman e é uma história moderna da Arca de Noé.

E num dos diálogos entre os personagens principais, Deus (Freeman) explica que quando as pessoas pedem a Deus coragem, acham que no dia seguinte vão acordar sentindo-se fortes como super-heróis e quando isso não acontece, elas se decepcionam, mas não é assim que as coisas funcionam. Quando elas pedem coragem, Deus lhes dá uma oportunidade para que elas descubram a coragem dentro de si mesmas. Quando pedem amor, o mesmo acontece, elas descobrem um sentimento que sequer imaginavam ter. E assim é como todos os pedidos.

Eu sempre pedi que Deus fortalecesse a minha fé e me desse mais coragem. Agora tenho a oportunidade perfeita para mostrá-las. Amanhã vai ser o primeiro dia do resto da minha vida. Um dia de muita fé e de muita coragem. Tenho certeza que Deus vai estar do meu lado como está agora e o pensamento positivo e as orações dos amigos vão me fazer sair daquele hospital caminhando rapidinho!

Então me despeço aqui agradecendo a todos os meus amigos, reais e virtuais, por todo o carinho recebido (esta é a parte linda da dificuldade: a gente se sente muito amada!) e pedindo para que continuem a corrente cada vez mais forte.

Beijos e até breve!