Sempre me perguntei como alguém pode seguir adiante depois de uma grande perda. Como é que a gente acorda de manhã, se veste e vai trabalhar depois de perder alguém que amamos assustadoramente? Será que alguém pode mesmo ser feliz depois que perde uma das pessoas que mais amou na vida? Como se faz para sorrir de novo? Para achar alegria?
Acho que nunca quis pensar muito que um dia eu teria que descobrir estas respostas sozinha, e mais, nunca quis imaginar que este dia estaria tão próximo. Não que eu tenha as respostas, longe disto, mas agora atravesso um período escuro e solitário, vivencio uma enorme lacuna que engole a minha alma. É muito mais intenso e profundo que qualquer um possa imaginar.
Como acontece com as experiências mais marcantes na vida, não existe maneira de se preparar para a morte de alguém que amamos. Nem a ordem natural das coisas, nem o sofrimento do ente amado, nem o cumprimento de sua missão na Terra...nada parece fazer sentido e justificar como de uma hora para outra ficamos sem alguém que significou tanto na nossa vida.
O que mais me doi é imaginar que alguém que tinha uma dimensão absurda e ocupava um lugar tão importante na minha vida não vai passar de uma foto num porta-retrato para o meu filho, que obviamente não se lembrará da Bisa que tanto o amou. Amou-o tanto que horas antes de nos deixar me perguntava: "Como está o nosso Joaquim?" E isto machuca. Ele não vai poder vivenciar a sua doçura, seu afeto, sua dedicação, sua sabedoria, seu amor, como eu tive a sorte de fazer.
Agora me pergunto como fazer para que em algum momento, quando tiver entendimento suficiente, ele entenda a importância que a minha avó teve na minha vida. É difícil de explicar, em primeiro lugar porque o nome "avó" é pouco para ela. Como há pouco me disse minha irmã, ela foi mãe, de verdade. E não desmerecendo a minha mãe, muito pelo contrário, as duas se complementavam de uma forma perfeita no papel mais importante que pode haver na vida de uma criança, ou, no nosso caso, de três.
E por isto hoje nós choramos muito e vamos chorar durante muito tempo, pois não perdemos uma avó, que só nos via nas férias ou no fim de semana. Perdemos uma mãe, que foi presença constante durante toda a nossa vida. E mesmo no meu caso, que passei grande parte do tempo longe, ainda assim, os laços com ela nunca enfraqueceram: cartas, telefonemas, skype, visitas, sempre a senti muito perto de mim.