March 27, 2012

Idioma

Semana retrasada, fui convidada a falar para estudantes de uma escola aqui em Maryland. O convite inicial foi feito a minha COO, que por conta da agenda apertada, sugeriu que eu fosse em seu lugar. O assunto? A importância de falar uma língua estrangeira. O tópico aparentemente inofensivo, mas um tanto desinteressante para um monte de adolescentes, também me levou a uma certa crise existencial. Na semana que me preparava para a tal palestra, passou uma barca aqui na empresa, o que me deixou bastante chateada.

Encontrar inspiração quando não se está bem consigo mesma é um desafio e tanto, mas como convite já estava aceito, não tive outra alternativa. A professora de espanhol e seus alunos de três turmas diferentes me aguardavam. Não gosto de falar para muita gente. Odeio PowerPoint. Detesto ficar escreva de slides. Não suporto me sentir amarrada a um discurso ensaiado. Não consigo memorizar palestras. Fico nervosa e me sinto engessada. Sou viciada em adrenalina. Stress é meu combustível.

Já sabia que não ia preparar nada muito detalhado, mas queria ter ao menos uma ideia geral do que dizer para os adolescentes. E foi então que, a pedido da professora, comecei a separar umas fotos dos programas que temos nos mais de 20 países onde trabalhamos. E mexendo nas minhas coisas, descobri também algumas fotos bem turísticas. Foi aí que surigiu o conceito principal da coversa: quando viaja, você pode se contentar só com a superfície ou pode querer aprofundar a sua experiência. Você pode se contentar só com as fotos de cartão postal, ou preferir bater um papo com as pessoas daquele lugar e tentar imaginar como seria um dia na vida deles.

Não há nada de errado com nenhuma das opções, mas como sou bisbilhoteira e ganho a vida contando histórias, para mim não há cartão postal no mundo que seja mais importante que uma conversa com alguém que viva naquele país. Praia bonita, paisagem perfeita, tem em todo lugar, o que faz um país deiferente do outro é o ser humano e como ele transforma sua realidade. E isto a gente só pode descobrir se fala a língua dele. Como disse Nelson Mandela, If you talk to a man in a language he understands, that goes to his head. If you talk to him in his language, that goes to his heart.

A palestra deveria durar meia hora, mas a conversa acabou durando quase uma hora e meia. Os alunos tinham muitas perguntas e muitas experiências para trocar, apesar da pouca idade. E no final, saí de lá pensando que apesar do meu cinismo inicial, a minha vida teria sido completamente diferente se não falasse outro idioma. Aliás, a vida que tenho hoje simplesmente não seria possível. Desde o meu primeiro emprego, guia da Amsterdam Sauer, até obviamente meu emprego atual, todas as oportunidades que tive, desde os 15 anos, chegaram a mim por causa da fluência num idioma estrangeiro. Isto sem falar nas pessoas que conheci, nos amigos que fiz e no homem com quem me casei. Então talvez o esforço de aprender um idioma não se traduza em cifrões ou em milhões na minha conta bancária, mas representa uma imensa satisfação pessoal, e mais do que isto, me permite viver fazendo o que gosto e ainda por cima sendo paga por isto.
E assim aquilo que começou com o outro em mente, acabou sendo uma viagem para dentro de mim mesma. A palestra seria uma atividade educacional para estudantes de middle school em Maryland, mas quem aprendeu uma grande lição fui eu.

1 comment:

Cristina said...

Dani, é impressionante. Se eu e você não dominássemos pelo menos mais um idioma, não teríamos ficado amigas :-) Fico feliz de saber que contribuiu para mostrar a importância de outro idioma para os jovens do país que você mora. Por que durante muito tempo, escutei que americano achava que só a língua dele bastava.