Sábado passado, dia 5 de dezembro, o Todd teria feito 29 anos. Claro que liguei para a Carmi para dar um beijo nela. Imaginei a dor e a saudade que ela deveria estar sentindo, mas ela, de novo, me surpreendeu. Forte e determinada, me disse que estava bem. Que tinha muita saudade do filho, mas também tinha muita fé e sabia que ele estava bem. As palavras dela me comoveram.
Ela disse ter ficado emocionada com a minha ligação, mas me garantiu que estava tranquila, que ia sair com a família toda para jantar num dos restaurantes favoritos do Todd. Achei a ideia otima: a família reunida para falar de lembrar e celebrar uma vida tão bacana. Ela disse que gostaria de repetir o ritual a cada ano.
Quando perde-se alguém tão jovem de uma forma tão brutal é normal procurar por explicações, então o que a gente mais escuta é que "fulano cumpriu a sua missão." É claro que a gente nunca vai saber qual é a missão do outro e o motivo dela ter se encerrado tão rapidamente, mas nestas horas, mais que explicação, a gente precisa de consolo.
Só que no caso do Todd, a missão dele era muito clara, muito óbvia. A missão dele era unir a família que andava dispersal. Os pais dele, que se separaram havia muitos anos, permaneceram unidos ao lado do filho até o final. E mesmo depois da partida do Todd, se veem sempre e continuam muito próximos, pois acho que só um entende exatamente a dor do outro. A relação da Carmi com a filha, que também estava um pouco abalada, hoje é excelente. Durante o tratamento do Todd, Angie passou boa parte do tempo em Baltimore, ao lado da mãe e do irmão caçula. Parece até que o Todd partiu mas não sem antes ter certeza de que a mãe não ficaria sozinha. Aliás, nos últimos dias dele por aqui, quando perguntado sobre medos e preocupações, ele só falava na mãe e na família...
Além disto, ele deixou os pais numa sitação financeira bem confortável. Os investimentos e as economias dele possibilitaram que a mãe pudesse se aposentar mais cedo. Além de deixar os bens para a família, deixou contribuições para instituições de caridade e para financiar uma bolsa de estudos para um jovem portador de câncer que queira continuar a estudar.
O mais surpreendente é que ninguém sabia que ele tinha planejado tudo em novembro do ano passado, antes de fazer o transplante, sem o menor alarde. Incrível pensar que um jovem de 28 anos tenha tido maturidade para enfrentar uma situação tão terrível com tanta coragem e sabedoria. Não consigo nem imaginar como ele pode tomar tantas decisões sozinho.
Então nestas horas não posso deixar de pensar que a missão do Todd por aqui foi cumprida com louvor: em 28 anos ele conseguiu fazer o que muita gente não vai fazer em cem. E assim como a Carmi, não me restam dúvidas de que ele está num ligar ótimo agora...
3 comments:
Belo texto Dani. Coincidentemente, sexta 11 seria aniversário do meu pai e minha mãe sempre faz algo nesse dia. Jantamos juntas em Terê, fizemos compras, o dia foi ótimo sempre lembrando de quem partiu... belo gesto seu.
Oi, Dani. Passei pelo seu blog (aliás vivo lendo seus posts) para lembrar também que ontem, dia 14 de dezembro, fez um ano que o meu irmão, Sandro, foi embora. Lembra dele? Foi vítima de metástase no fígado no ano passado e morreu com 32 anos...
Mais uma vez quero deixar um beijo carinhoso a você por ter~dado tanta atenção a ele. Guardo até hoje os e-mails que vocês trocaram de recordação. Saiba que nunca vou te esquecer e admiro muito o trabalho que você faz junto às vítimas dessa doença tão terrível. Me lembro que já na fase terminal, lá no Hospital do Câncer, toda vez que eu chegava no início da tarde para vê-lo, o Sandro perguntava: "E aí, tem algum e-mail da Dani para mim?" Ele falava de você como se vocês fossem amigos de longa data. Tanto é que no começo imaginei que talvez você fosse uma ex-colega dele de faculdade, que tinha se mudado para os Estados Unidos.
Desejo a você um maravilhoso Natal e quem sabe, quando você vier ao Brasil, eu possa ter a oportunidade de conhecê-la pessoalmente.
Escrevi um texto em meu blog onde faço uma homenagem à vida, o bem mais precioso do universo e postei uma foto do Sandro, com uma pequena homenagem à vida que ele teve. Entra lá: monicacintrainedita.blogspot
Um grande beijo!
Monica Cintra
Monica,
Claro que me lembro de você e do Sandro. Você pela atenção que teve comigo ao me dar notícias do seu irmão. E como vou me esquecer do Sandro, como você disse no seu post, um eterno otimista, lutador até o final. Pode ter certeza que sempre guardo a lembrança dele no meu coração e que apesar de não termos nos conhecido pessoalmente, tínhamos uma ligação real, baseada no entendimento mútuo do sofrimento do outro. Sinto muito que o Sandro tenha partido tão cedo. Só me resta pensar que ele já tinha cumprido a sua missão com tanta coragem e dignidade. Pena de nós que o perdemos cedo demais.
Fique com Deus, pois o Sandro já está lá em cima com ele.
Beijos
Post a Comment