April 15, 2009

Mensagem para os Homens que Abandonaram as Meninas com Câncer...

Lendo o livro da Kayrol, que é o máximo, uma das frases que me chamou atenção foi de uma das meninas. Depois coloco a versão original aqui, mas a tradução livre ficaria assim: "Se eu tivesse que mandar um recado para todos os babacas que largaram suas namoradas porque elas estavam doentes, diria a eles 'fuck you, fuck you, fuck you!'" Pois é...tem expressões que dispensam tradução.

Se enfrentar uma doença desgraçada não fosse bastante, muitas vezes a gente ainda encontra mais pedras no caminho. C'ést la vie. É claro que toda história tem dois lados, de repente a relação já não ia bem, e com o baque da doença, dos tratamentos e do stress emocional, não teve jeito, foi mesmo pelos ares. Em situações extremas, parece que tudo "ou vai ou racha".

Também é bom lembrar que só porque o sujeito tem câncer não vai virar santo de um dia para outro. Se o cara ou a garota era babaca antes, não é por causa de um tumor que vai virar mártir. Tudo bem, uma doença destas muda muita gente (eu, por exemplo), mas tem gente que não muda e ainda tem os que mudam para pior. Então é difícil julgar.

Também tem o agravante do tratamento, que pode ser muito demorado e sacrificante. Nestas horas, tem gente que tem dificuldade em se expressar, se relacionar e acaba, conscientemente ou não, escolhendo ficar só. Pode ser uma questão de timing também... Enfim há zilhões de motivos que ficam entre a desculpa e a razão, mas a verdade é que enfrentar uma separação depois de descobrir que tem câncer é simplesmente horrível e aterrorizante.

Cada um enfrenta a doença e tudo que a cerca de modo diferente e uma pessoa pode viver situações completamente diferentes, dependendo das circunstâncias. No meu caso, tendo passado pela experiência duas vezes, a minha vivência não poderia ter sido mais diferente. Graças a Deus.

Em 2002, estava envolvida com um cara complicado. Não era mau, mas era muito complicado, o que tornava a relação problemática. Não havia brigas, mas eu sentia que a coisa não engatava e durante os primeiros meses chego a pensar que dei mais do que recebi, o que, na época, não via como problema, já que a minha vida transcorria muito normalmente.

Até que um dia isto tudo mudou e eu, que sempre fui acostumada a cuidar dos outros, precisei ser cuidada. E os problemas dos outros, com os quais sempre acabava me envolvendo, passaram a ser demais para mim. Eu, que só me doava, agora também requisitava, precisava. E isto desequilibrou completamente a relação. Entre cirurgias, internações e tratamentos, minha vida social desapareceu e é claro que isto afetou o relacionamento. Quem quer ficar em casa com a namorada doente durante meses?

Foi muito difícil para mim, depois de ter perdido 70% do fígado, a vesícula e a minha auto-confiança, perder também o namorado, mas não tive saída. Da primeira vez que sugeri o término, ele não aceitou, disse que ia mudar e eu acreditei. Duas semanas depois, nada havia mudado e novamente eu puxei o assunto, só que desta vez, para minha surpresa, a resposta foi: "Tudo bem, você tem razão. Melhor assim, continuaremos bons amigos."

Como assim melhor assim? Ele me pegou no meu blefe, mas já era tarde demais. Estava feito. Fígado e coração partidos ao mesmo tempo, bingo! Isto foi mais ou menos a uma hora da manhã. Voltei para casa e passei a noite em claro. Acordei exausta.

Poucas horas depois, sentada no consultório médico e pronta para receber boas notícias, levo outro balde de água fria. Olhando meus exames, os médicos tinham mudado de idéia, eu iria fazer quimioterapia e provavelmente partiriam para uma nova cirugia. Por alguns segundos, procuro a janela mais próxima, estamos no sexto andar, se eu me jogar será que morro de vez?! Mas é claro que a idéia absurda não dura mais que um instante. Tentando me refazer de susto, saio do consultório cambaleando, amparada pela minha mãe.

Ao chegar em casa, ligo para alguns amigos para desabafar. Tenho a triste idéia de ligar para o ex, que na véspera tinha jurado amizade eterna. Ele atende e eu explico o que está acontecendo... Ele faz uma pausa e calmamente responde "Puxa, Dani, isto é muito chato. Se precisar de mim, pode contar comigo. Mas não é porque você descobriu que continua doente que nós vamos reatar..."

Escuto atordoada. Tudo bem que no meu subconsciente eu poderia estar até usando o cancer card -- embora até hoje ache que só queria um ombro amigo -- mas a frieza(intencional ou não) das palavras dele doeu como choque de milhões de volts. Se até ali, estava sentindo pena de mim, a partir daquele momento, vi a verdadeira e velha Dani ressurgir das cinzas, tal como a fênix. "Que FDP!," pensei. Tratei de encurtar logo a conversa e seguir minha vida. Aquele idiota egoísta não merecia mais um minuto do meu tempo!

Por um tempo, continuamos nos falando, eu sempre uma lady. Até que os anos foram passando e percebi que realmente não tínhamos nada em comum. Interesses, ambições, valores e desejos diferentes demais....a vida se encarrega de afastar. Hoje não tenho notícias dele. Espero que esteja bem, afinal ele não é nada mau, so era o homem errado para mim, naquela hora e para sempre.

Por mais duro que tenha sido na época, foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido, pois (eu sei que é cliché!!!) se não fossem pelos panacas que cruzaram a minha vida, jamais teria encontrado o Blake!

A minha vida mudou radicalmente depois da cirurgia: novos amigos, novo trabalho, novos interesses, novos horizontes. Quando encontrei o Blake, o furacão já tinha passado, a doença já tinha ficado para trás. Ou assim eu pensava.

Mas eis que nove meses depois do nosso lindo casamento, ela volta a mostrar a cara. Se o tumor sempre tinha estado ali ou se era novo, jamais vou saber, mas o inegável é que havia de novo uma massa no meu fígado e a operação era inadiável. Lá fui eu entrar na faca de novo.

Só que desta vez foi muito diferente. Jamais tive dúvidas de que o Blake estaria ao meu lado durante a nova empreitada, mas não fazia idéia do tamanho da dedicação dele. Assim que recebemos a notícia, fizemos uma reunião em família. Meus pais foram enfáticos ao dizer para ele que entendiam que ele tinha uma vida e um emprego nos EUA e, como a minha temporada no Rio era indefinida, eles cuidariam de mim para que o o Blake pudesse voltar para casa. Sem pestanejar, ele respondeu. "Obrigada pela generosidade, mas eu não vou a lugar nenhum. Ela é minha esposa e eu só saio daqui com ela. Nós vamos voltar juntos."

Meus pais boquiabertos insistiram, explicando que temiam pelo emprego dele e o Blake mais firme dizia. "Eu dou um jeito nisso. Nem se preocupem. A minha prioridade é a Dani e só." E ali, ouvi palavras tão lindas como as que tinha ouvido no dia 24 de março de 2007, com a diferença de que naquele momento elas eram incrivelmente reais. "Na alegria e na tristeza. Na saúde e na doença."

Sinto muito por aqueles que enfrentam a doença sozinhos, pois um companheiro ao seu lado faz toda a diferença do mundo. O Blake foi um apoio não só para mim, me acompanhando a todas as consultas e exames, mas para os meus pais, já mais frágeis e cinco anos mais velhos. Desta vez, a minha irmã, que tinha sido companheira inseparável durante a primeira cirurgia, estava grávida de quatro meses, o que tornava a situação muito diferente.

Mas a cirurgia foi um sucesso, a recuperação muito boa e nossa relação resistiu a tudo e tornou-se muito mais sólida. Parece que somos casados há milênios... A cada dia pecebo a minha escolha acertada e agradeço a Deus por ter colocado um homem tão bom no meu caminho.

Então ao contrário do que a personagem do livro da Kayrol disse, a minha mensagem para todo/a babaca que larga a namorada/o namorado ou, ainda pior, a mulher/o marido, é "Thank you! Muito obrigada por sair da minha vida e abrir as portas para alguém muito melhor. Obrigada por me fazer ver o quão errada eu estava ao pensar que você era homem/mulher suficiente para estar ao meu lado. Obrigada por me fazer enxergar que eu mereço e posso ter alguém muito melhor. Thank you, thank you, thank you. E tenha uma vida maravilhosa, pois tenho certeza que a minha vai ser."

4 comments:

Me said...

Oi Dani, andava meio sumida.... mas estou de volta e ja coloquei em dia a minha leitura aqui.

Escuta, vc falou sobe medicina alternativa e eu ja participei de varios seminarios sobre isso e tb faco tratamento medico natural... nao tomo nenhum remedio e me trato com ervas, massagem e comidas organicas.

E so far... estou adorando e meu corpo tb.

Bjs

Blake said...

as palavaras que linda, mas eu sou o que é afortunado.

Cristina said...

Blake,
com esse recadinho, acho que as lágrimas caem. ;-)

Dani,
para variar, eu entro aqui de vez em quando para ler algo seu qdo me sinto que tem algo me incomodando. Hoje soube que um colega de trabalho morreu de câncer. Conhecia de vista, um senhor. Só veio culminar o sentimento de desânimo que eu sentia desde de manhã (por conta de uma tarefa chatinha e desgastante onde vejo que 10 pessoas não conseguem se entender)...mas suas palavras me enchem de ânimo. Fiquei com lágrimas nos olhos ao ler a parte de 2007. Parabéns!

Fernanda França said...

Ahhhhh Daniiiiii que lindo o Blake deixou recadinho!!!!! Lindo!!!!! Eu só descobri que ia casar com o homem que é meu marido hoje quando estava na UTI, ele segurou minha mãe e disse que trocaria de lugar comigo para que eu não sentisse dor. A vida é boa, Dani, aos nos tirar as pedras do caminho para mostrar a felicidade.