May 28, 2008

Stand Up To Cancer

Hoje os três âncoras das maiores redes de TV dos EUA lançaram uma megacampanha para arrecadar mais fundos para as pesquisas para a cura do câncer.

Os jornalistas Katie Couric (CBS), Charles Gibson (ABC) e Brian Williams (NBC) passaram por todos os programas matinais divulgando o especial que será transmitido simultaneamente pelas três emissoras em todo o país.

A idéia é sonho antigo de Katie que perdeu o marido e a irmã para a doença. Os outros dois jornalistas também viveram a experiência da doença de perto.

O comercial é de arrepiar.



É tocante ver o comprometimento de tanta gente por uma causa tão urgente. Atos assim me enchem de esperança de que a cura para o câncer pode estar muito próxima.

Plágio

Se tem uma coisa que me deixa enfurecida é quando se apropriam de textos meus sem me dar o devido crédito. Fico roxa de raiva! Acho que todo conhecimento precisa ser compartilhado, mas usando o jargão jornalístico "chupar" texto é uma coisa muito feia, que não passa muito longe de "roubo" mesmo, pois a produção intelectual de um escritor/jornalista/tradutor é um ativo importantíssimo e muitas vezes é através dela que sobrevivemos.

Hoje fiquei chocada ao descobrir a minha tradução para o artigo do Washington Post postada ipsis litteris num outro blog, sem menção alguma ao meu nome ou ao jornal que publicou a matéria original. Não é frescura não, mas um ato assim tão inocente não leva em consideração o autor que passou horas escrevendo o texto ou a tradutora que foi dormir às quatro da manhã para cumprir uma promessa aos blogueiros amigos de plantão. O mínimo que eles merecem é uma mísera mençãozinha, não acham?

Como repórter que sou, presto muita atenção a este tipo de coisa e procuro sempre indicar as fontes em todo o material que escrevo. Talvez deva culpar minha formação jornalística purista por tanta sensibilidade, mas sinceramente me sinto violada quando uma coisa destas acontece.

Como um dos meus professores favoritos da NYU, o jornalista do New York Times, Ed Diamond dizia, "stealing from one source is called plagiarism; stealing from five or more sources is called research." Então não importa como encare a situação, se o povo está usando meu trabalho sem se importar sequer em mudar uma palavra ou outra, não tenho outro adjetivo para usar a não ser "plagiadores". Uma pena!

Meu mapinha

Sai um pouco do foco do blog, mas acho melhor explicar o novo "brinquedinho" que coloquei aqui.

No lado direito da página, vocês podem ver um mapinha azul e pink com umas estrelinhas piscando, o que significa que naquele exato momento há outras pessoas acessando o blog desas áreas assinaladas.

Mapas sempre tiveram um efeito mágico em mim. Pequena, um dos meus brinquedos favoritos era um atlas imenso da Enciclopédia Britannica. Adorava passar horas folheando suas páginas e imaginando lugares novos e povos diferentes. Sempre fui fascinada por culturas diferentes, então não foi supresa para ninguém quando do alto dos meus 18 anos arrumei minhas malas -- depois de ter conseguido uma bolsa de estudos -- e vim para os EUA sozinha.

Por aqui, não conheci somente a cultura americana onde fui simplesmente imersa, mas passei por um verdadeiro choque cultural. Passei dois anos trancada numa universidade para mulheres na Virginia -- um dos estados mais tradicionalistas por aqui -- mas por outro lado, conheci as pessoas mais progressistas que se tem notícia. Do dia para noite, minhas melhores amigas de infância eram turcas, indianas, nicaragüenses e por que não americanas?! Nunca aprendi tanto num espaço tão curto de tempo.

Então foi justamente por esta minha fascinação por mapas e povos e culturas diferentes que incluí este wiglet aqui. Para saber exatamente onde meus novos amigos estão.

May 27, 2008

Os avanços da ciência

Uma das maiores vantagens de ser jornalista é que a gente fica sabendo muita coisa em primeiríssima mão. Às vezes as notícias são desagradáveis, mas vez ou outra, a gente fica sabendo de cada coisa que de tão bacana chega a ser inacreditável.

Uma das reportagens que fiz nos últimos dias me encheu de esperança e me comoveu muito, pois vi que o compromisso em encontrar uma cura para o câncer é real para muitas pessoas e que a ciência caminha passos largos nesta direção. Espero ver muita coisa ainda enquanto viver.

Há algumas semanas revirando a internet em busca de empresas de biotecnologia que estejam em vistas de abrir o capital, conheci a Stemline Therapeutics, uma empresa supernova que trabalha com um mecanismo que ataca as células-tronco cancerígenas. Admito que sequer sabia que tais células existem, mas graças a Deus têm gente muito esperta tentando tudo para acabar com elas.

O Dr. Ivan Bergstein é uma destas pessoas geniais que estão determinadas a encontrar um modo de melhorar o prognóstico de milhares de pacientes. Ele não se conforma em perder a guerra contra esta doença maldita e o logo da sua empresa já diz tudo: Targeting cancer at its root, que quer dizer atacando o câncer pela raiz.

Conversando com ele, que é oncologista e hematologista, descobri que estas células-tronco cancerígenas são um a cinco por cento de todos os tumores e que ao contrário das outras células, estas não reagem a nenhuma forma de tratamento condicional, como químio ou rádio.

Com esta tecnologia, as novas drogas passarão a atacar diretamente as células-tronco cancerígenas, sendo assim a probabilidade de reincidência da doença cai drasticamente. Esta notícia não é ótima?!

A Stemline já está trabalhando nos testes clínicos para leucemia e outros tipos de câncer do sangue. Há também alguns testes para câncer de cérebro e bexiga, ainda em fase inicial. Nada ainda para fígado, o Dr. Bergstein me disse, mas devido a grande demanda, a empresa deve começar a estudar a hipótese. Como se sabe, o fígado é um órgão muito complexo, por isto a necessidade de muitos estudos e testes. Mas tenho fé na ciência. Tenho fé no Dr. Bergstein e em muitos outros cientistas dispostos a erradicar esta doença o mais rápido possivel.

Saí do que seria uma simples entrevista sobre os dados financeiros de uma empresa revigorada. Saí inspirada e feliz de saber que se o câncer nunca dorme, a ciência também não fica atrás. Às vezes é muito bom estar nos EUA só para ver este tipo de coisa acontencendo e conversar com que está por trás de um avanço destes. São dias como este que me deixam extremamente feliz e otimista. Sorrio só de pensar que meus filhos podem viver num mundo sem câncer.

May 24, 2008

Lembrando daqueles que lutam...


Este foi um dos momentos mais emocionantes durante a cerimônia dos sobreviventes da ACS.

Depois dos discursos, cada um dos presentes pôde acender uma luminária em homeagem ou em honra daqueles que lutaram contra o câncer.

Minha cunhada Elizabeth foi comigo e também ficou muito sensibilizada.

Semana que vem, tem a nossa cerimônia aqui. Quero acender mais luminárias.

Desta vez vou acender uma para o Ricardo, sobrinho da Isabel. Isabel, se você puder, por favor me mande o nome dele completo.

Quem estiver lendo este post e quiser que eu acenda uma luminária para um ente ou amigo querido, por favor me mande o nome completo da pessoa e se possível o tipo de câncer.

May 21, 2008

Ted Kennedy


O clima aqui nos EUA está pesado desde a revelação da doença do Senador Ted Kennedy, último dos irmãos vivo e símbolo máximo do Partido Democrata .

Convicções políticas a parte, não se pode negar a importância de Ted para a política americana. Ele é o segundo senador mais antigo a servir o país e continua mais ativo do que nunca. Kennedy foi importante durante o movimento dos direitos civis e marchou junto a Martin Luther King contra a segregação racial nos anos 60 e sua tem sido um dos legisladores mais ativos da história deste país. Uma das causas abraçadas pelo senador é o combate ao câncer. Kennedy defende mais investimento em pesquisas para a cura e em tratamento mais justo para os pacientes. Vale lembrar que praticamente não há sistema de saúde pública nos EUA.

É uma grande ironia do destino que esta doença a qual ele declarou guerra anos atrás agora possa vencer esta batalha. Mas como todos insistem em dizer, ele é um lutador e não vai desistir facilmente. Deu para ver a coragem dele ao deixar o hospital em Boston ainda pouco.

Vou continuar rezando por Ted Kennedy e por sua família. Que Deus lhe dê vida longa e coragem para continuar a batalha.

Por que contar a minha história?

Quarta-feira passada, fui a recepção em honra aos sobreviventes de câncer. Foi um momento muito emocionante e "acridoce" para mim. Me sinto muito feliz de ter vivido para contar a história, me sinto realizada por estar envolvida e dando o máximo de mim para que uma cura seja encontrada, mas ao mesmo tempo, sou obrigada a reviver momentos marcantes na minha vida -- bons e ruins -- e isso é difícil.

O pessoal aqui de Carroll County, onde eu moro, está reunindo depoimentos de pacientes de câncer para lançar um livro de histórias de inspiração e coragem. Não pensei duas vezes antes de abraçar a idéia, assim como nem me passou pela cabeça não fazer parte do livro da Planet Cancer. Se não consigo entender muito bem por que ainda estou aqui -- não sou melhor nem pior que ninguém e tantas pessoas maravilhosas não têm a mesma chance -- às vezes acho que fiquei aqui para contar a minha história, para dar meu depoimento, ou como a minha mãe gosta de dizer, "dar meu testemunho." Não consigo entender por que minha vida foi poupada, mas estou decidida a fazer o máximo com o tempo que me resta.

Acho estas iniciativas maravilhosas e me dedico a elas para que ninguém tenha que passar pelo que eu passei. Espero que ninguém tenha que sentir a solidão absurda que eu senti. Quero que os novos pacientes saibam que há vida depois do câncer e que esta vida pode ser muito mais completa do que a vida que conhecíamos antes.

Como ouvi outro dia, o diagnóstico de câncer se parece muito com a morte propriamente em si. Você pode estar cercado de familiares e amigos que te amam, que rezam muito por você e que vão estar ao seu lado sempre. Mas a jornada é só sua e você tem que percorrê-la sozinho. Então bate um medo, um pavor enorme, pois só você pode passar por sua via crucis e você está só. Nestas horas só quem tem espiritualidade sobrevive, pois sentimos a presença de Deus junto a nós; sentimos que Ele nos conduz para um lugar melhor. Ainda não estou tão firme na minha fé a ponto de encarar tudo isto com serenidade, mas espero um dia chegar lá.

É ilusão pensar que depois de um diagnóstico terrível como estes, nossa vida será a mesma. Nada nunca mais será igual. Nossa inocência foi perdida, mas ganhamos tantas outras coisas. Ganhamos além de feridas e cicatrizes uma apreciação enorme pelo dom da vida e isto não tem preço.

May 20, 2008

Senador Ted Kennedy tem tumor maligno no cerebro

Estou aqui tomando conta dos filhos dos meus vizinhos, dois fofos de quatro e dois anos, e acabei de ler esta noticia tao ruim.

Um icone da politica americana e mundial o Senador Ted Kennedy que foi internado as pressas este fim de semana acaba de receber o dignostico de um glioma no cerebro, o tipo de tumor mais comum no cerebro e diagnosticado em 9000 americanos a cada ano. O tratamento ainda nao foi decidido, mas deve incluir radio e quimio.

Esta noticia me causa um vazio absurdo. Me leva a um lugar terrivel de onde consegui escapar. Mas deixei um pouco de mim la, um pouco da minha inocencia, um pouco da minha arrogancia. E toda vez que escuto que mais alguem esta vivendo o mesmo drama, meu coracao se despedaca um pouco.

Me deixa triste o modo como a midia trata o assunto. Este trecho foi tirado da materia publicada pela Associated Press:

Average survival can range from less than a year for very advanced and aggressive types — such as glioblastomas — or to about five years for different types that are slower growing. (...)

Kennedy is active for his age, maintaining an aggressive schedule on Capitol Hill and across Massachusetts. He has made several campaign appearances for Sen. Barack Obama in February, and most recently last month.
Kennedy, the senior senator from Massachusetts and the Senate's second-longest serving member, was re-elected in 2006 and is not up for election again until 2012.
Were he to resign or die in office, state law requires a special election for the seat no sooner than 145 days and no later than 160 days after the vacancy occurs.


Resumindo: Se ele renunciar ou morrer durante o mandato, a lei estadual exige que haja uma eleicao especial entre 145 e 160 dias depois que o cargo estiver vago.

Como jornalista que sou, sei que a midia tem que fazer uma cobertura imparcial e completa, mas sera que o jornalista que escreveu nao tem pai? Como sera que ele reagiria se soubesse que ha muita gente especulando o que vai acontecer depois de usa morte.

Ainda e muito cedo para saber qual sera o prognostico do senador, mas acho que um minimo de respeito deve ser exigido.

Patrick Swayze foi declarado morto ha meses, quando lhe deram conco semanas de vida. Nao tenho acompanhado o caso, mas ele ainda esta vivo e trabalhando. Eu mesma ja tive minha morte decretada por leigos irresponsaveis algumas vezes e continuo aqui firme e forte e mais saudavel do que nunca. Estas pessoas irresponsaveis so se esquecem que nao sao Deus. Por mais que tentem...nao sao e jamais serao.

Entao e por isso que rezo muito pelo Felippe, pelo Senador Kennedy e por tanta gente que sofre neste momento mas luta com uma coragem admiravel. Meus pensamentos e oracoes estao com eles e suas familias. E como no caso do Nene, espero voltar aqui para postar as boas noticias.

Photo shoot

Não sei se falei para vocês, mas temos um amigo fotógrafo que acabou de montar um estúdio e perguntou se queríamos ser "modelos."

O Blake já foi modelo de verdade, mas eu não levo o menor jeito. Para piorar, fui fazer uma escolva no salão e o povo aqui me deixou parecendo uma cantora country. Também quem manda confiar em hairstylist de Sykesville!!!

Bom, ele mandou as primeiras fotos e a minha favorita foi esta aí de cima... A gente está com cara daqueles casais americanos de corretores imobiliários, mas c'ést la vie... Não ficou tão ruim assim... O fotógrafo é ótimo, mas a modelo não estava no seu melhor dia...

May 18, 2008

Apelo

O Felippe, meu amigo de batalha e blogueiro querido acaba de saber que precisa de um transplante de medula. Muitos de voces ja devem estar acompanhando a trajetoria no blog dele.

Este apelo vale principalmente para o pessoal do RioSei, mas se o Felippe nao tiver sorte de encontrar doador competivel no Hemorio, a busca continua em varios bancos. Entao quem puder ir ao Hemorio para tipar a medula, pode ajudar nao so ao Felippe, mas a muitas outras pessoas a espera de um transplante. Segundo o proprio Felippe, as chances sao de uma em um milhao, mas se espalharmos esta noticia, estas mesmas chances aumentam bastante. Quanto mais gente for testada, mais gente pode receber uma medula nova e uma chance de vida saudade de presente.

O exame é simples, tiram apenas 10ml de sangue. No link abaixo tem todas as informações que vocês precisam saber. http://www.hemorio.rj.gov.br/Html/Doacao_medula_ossea.htm#1

Por favor, faca uma visita ao Hemorio, levem amigos e familiares com voces.

O Felippe, eu e muita gente que espera por uma chance de continuar vivendo agradecemos muito.

May 16, 2008

Egoísmo

Outro dia, li uma matéria sobre o Lance Armstrong em que ele diz que resolveu tornar a sua batalha contra o câncer testicular em algo público na esperança de ajudar outros pacientes na mesma situação.

Às vezes me faço a mesma pergunta: Por que tornei a minha vida tão aberta nos últimos tempos? Cheguei ao cúmulo de postar imagens do meu tumor aqui no blog. O que me levou a isso? Logo eu, que sempre fui uma pessoa reservarda. Não sei se foi mais por desejo de ajudar ao próximo ou na esperança de ajudar a mim mesma, puro instinto de sobrevivência. Provavelmente uma mistura, mas a última opção deve ter falado mais forte em algum momento.

Da primeira vez que tive que lidar com um diagnóstico ruim, não soube bem o que fazer, até porque não tive resultado imediatamente. Começou como um tumor benigno e acabou como uma forma de câncer hepatocelular. Começou assustador e terminou aterrorizante. Mas eu vivi -- com um fígado mutante, sem vesícula, com alguns danos ao pulmão direito e muitas cicatrizes espalhadas pelo meu corpo (a da Mercedes e outras pequeninas) -- mas vivi, com mais vontade de viver do que nunca, com meu espírito e intacto e com minha fé renovada. Sempre achei qeue se tivesse uma segunda chance, faria algumas coisas de forma diferente.

Depois do vendaval, resolvi tentar fazer sentido sobre tudo que tinha acontecido e encarar a minha jornada de frente. Decidi aprender com ela e falar sobre a minha experiência me ajudou bastante, pois falando eu conseguia organizar meus pensamentos e encontrar alguma paz dentro de mim. Além disso, o sentimento de solidão terrível que me acompanhara no início aos poucos desaparecia. Comecei a escutar histórias belíssimas em lugares inesperados. Pessoas que há anos viveram a experiência, mas tinham preferido guardar para si mesmas por um motivo qualquer, de uma hora para outra resolveram me dar seu testemunho. Aquilo me tocou muito. De uma hora para outra já não estava mais só. Já não era mais uma anomalia e assim me senti muito melhor.

Quem não passou por isto não entende a importância que uma história de vida, um testemunho tem para quem teve a vida afetada pelo câncer. Não faz muito tempo, a doença era sinônimo de morte certa, então nada me deixa mais feliz do que ver alguém que derrotou as estatísticas. Alguém que provou que é possível. E se este alguém pode, eu posso também. Ainda não encontrei nenhum sobrevivente de câncer hepático, mas continuo procurando. Enquanto isso, me esforço ao máximo para estar viva por muito tempo por mais longa que possa ser a minha busca.

Durante a cerimônia dos sobreviventes, eles fizeram um joguinho. Se você já teve câncer fique de pé...se você foi diagnosticado há um ano, sente. Há cinco anos, sente. Até que a última pessoa a ficar de pé é declarada vencedora. Na quarta-feira foi uma senhora, diagnosticada há 34 anos. Parecia bem velhinha mas cheia de saúde. Fiz as contas rapidamente e vi que se viver mais 34 depois do minha primeira cirurgia, meu prazo se expira quando eu chegar aos 62. Sessenta e dois?! Nem pensar...quero ganhar aquele concurso e ser a última pessoa de pé, pelo menos 62 anos depois do meu diagnóstico, do alto dos meus 90.

Recepção para os Sobreviventes

Como sou do comitê organizador do Relay aqui da área, me convidaram para ir a uma recepção de um outro Relay aqui perto para ter uma idéia do evento. Fiquei surpresa com a magnitude e com a emoção que senti só de estar lá.

A máxima da American Cancer Society de que o câncer não escolhe nem uma hora nem um alvo específico para atacar se materializou sob os meus olhos. Eu estava ali, num pavilhão imenso, numa área completamente rural em Maryland, rodeada por pessoas que primeiramente não tinham nada a ver comigo: faixa etária, aparência física, jeito de vestir, e tantas coisas mais, mas que na verdade tinham um laço fortíssimo comigo e com tantos outros. Aquelas pessoas sabiam exatamente o tamanho da dor que um diagnóstico ruim pode causar. Todas aquelas pessoas ali tinham vivido e testemunhado um momento cruel e inesquecível e estavam ali todas juntas para mudar o rumo da história.

À minha frente, duas senhoras de uns setenta anos. Ao meu lado, um casal jovem na faixa dos vinte e poucos. Todos tão diferentes mas tão iguais; tão emocionados por poder estar ali. O momento mais tocante, sem dúvida, é a hora das luminárias. Espalhados nas mesas estão velas e sacos de papel, onde os presentes devem escrever os nomes daqueles que travaram a batalha com a doença. "Em memória" dos que se foram e "em honra" aos que sobreviveram".

Foi naquela hora que notei quantas e quantas pessoas queridas para mim mereciam ter seus nomes escritos ali. Não haveria papel suficiente. Foi naquela hora também que pela primeira vez me veio à cabeça que a minha bisavó tinha morrido de câncer, mas ela já era velhinha e naquela época ninguém falava na doença. Estranho pensar que a Vó Clarinda era velhinha naquela época, mas tinha a mesma idade que a filha dela, minha Avó Ruth, tem hoje. Não me parece justo. A minha avó venceu um linfoma há uns cinco anos e me parece ainda tão jovem. Como ela mesmo diz, "a gente só envelhece por fora. Por dentro, a gente permanece a mesma pessoa".

Tudo isto me faz ver como as coisas mudaram. Se há vinte anos, ninguém ousava falar no inimigo covarde, hoje as pessoas são muito mais abertas sobre assuntos que até pouco tempo eram tratados como "particulares e privados". Ainda bem. Ainda bem que não temos mais medo de encarar o inimigo de frente e cada vez mais temos certeza de estar mais perto de uma cura.

Foi por isto tudo que tive que prender o choro durante mais de duas horas. Duas horas de emoções intensas e conflitantes. Felicidade por estar ali e tristeza por tantos que não tiveram a mesma sorte. Alívio por ter conseguido sobreviver e medo, por mais escondido que ele esteja, do que este inimigo ainda pode fazer com a minha vida.

Na maior parte do tempo nem penso no assunto, pois estou muito preocupada em viver a minha vida da melhor forma possível. Ainda tenho tantos sonhos e me ocupo a cada dia em tranformá-los em realidade. Tenho muita sorte de ter a família e os amigos que tenho que me apoiam sempre, mas de vez em quando me dá uma pontinha de medo. E é por isso que insisto em me engajar nesta causa e é isto que me move, pois a cada dia este medo fica menor.

May 13, 2008

Relay for Life

Está chegando o dia do nosso Relay for Life aqui em Sykesville/Eldersburg. Estou animada e já fico emocionada só de pensar no dia.

Vou acender duas tochas, uma em homenagem a minha avó, que lutou bravamene e venceu um linfoma so alto dos seus setenta e poucos anos e outra para o Ivan Karlos, meu amigo de Orkut e companheiro de batalha, que enfrenta um câncer de pulmão com uma coragem e um otimismo impressionantes. Tenho orgulho deles e de tantos outros. Vou tirar fotos e postar aqui. Vai ser um momento muito especial para mim. Depois quero mandar as tochas para eles, para que eles saibam que tem muita gente torcendo por eles.

Vou acender também uma luminária para mim, para simbolizar a minha jornada às vezes tão árdua mas sempre tão emocionante e rica. Vou celebrar o meu renascimento.

Hoje vou à reunião da ACS e como Chair do Mission Delivery Committee, inventei um joguinho para quebrar o gelo. Parece meio mórbido, mas não é não.

Ligue a celebridade ao tipo de câncer que ela/ele venceu. Queria tirar o foco das vítimas, queria lembrar dos que lutaram e venceram e provaram que viver é possível, mesmo quando se tem uma sentença de morte em mãos.

Querm jogar? As celebridades são principalmente americanas por razões óbvias, mas não custa tentar...

Vamos ver se vocês sabiam que metade deste povo tinha enfrentado a doença maldita! Ah, continuei sem encontrar uma celebridade que tenha vencido o câncer de fígado. Acho que está na hora de me tornar famosa!!!!

Match the cancer and the celebrity survivor:

Types of cancer:

a) breast cancer

b) prostate cancer

c) skin cancer

d) testicular cancer

e) uterine cancer

f) thyroid cancer

g) colon cancer

h) lymphoma

Celebrities:

( ) Steve Jobs

( ) Edie Falco

( ) Robert De Niro

( ) Fran Drescher

( ) Sharon Osborne

( ) Cybil Shepherd

( ) Anastacia (pop singer)

( ) Gene Wilder

( ) Liz Taylor

( ) Joe Torre (former Yankees coach)

( ) Kylie Minogue

( ) Lance Armstrong

( ) Bob Dole

( ) Olivia Newton-John

( ) Rod Stewart

( ) John Kerry

( ) Suzanne Sommers

( ) Scott Hamilton (ice skater)

( ) Rudy Giuliani

( ) Jaclyn Smith

( ) Nelson Mandela

( ) Tom Green

( ) Sheryl Crow

( ) Ronald Reagan

( ) Cynthia Nixon

Tempo

Tenho escrito tanto que me sobra pouco tempo para escrever aqui no blog. A escrita deveria ser um processo criativo, mas nem sempre é. Aliás, para a grande maioria dos jornalistas, isto pouco acontece. Para os jornalistas financeiros usar a criatividade é raridade, a não ser quando repórteres inventam histórias, mas aí já vira ficção, não jornalismo, mas vai explicar isso para eles!

Meu novo trabalho vai bem, obrigada, mas vez ou outra entro em uns conflitos éticos e desanimo um pouco. Sempre achei que o dever do jornalista era sair em busca da história e não manipular fatos para transformá-los em notícia, mas o que é cristalino para mim não parece ser tão importante para outros. Mas c'ést la vie...

Ando também muito preocupada. Minha vizinha e amiga Tracey está no hospital faz uma semana. Não se sabe o que ela tem. Esta falta de diagnóstico é das coisas mais assustadoras que podem exisitir. A gente sabe que existe algo de muito errado mas os médicos não fazem a menor idéia do que seja. Exames invasivos, imagens, consultas, mas nenhuma pista concreta.

Isto tudo me assusta. Assusta principalmente por se tratar de uma enfermeira que trabalha em um dos maiores hospitais de Maryland. Assusta por se tratar da mãe jovem de duas crianças lindas. Assusta por saber que doze horas antes da crise ela estava conversando comigo no portão. Assusta porque ninguém sabe quando ela volta para casa.

Nestas horas a gente leva aquela sacudida que deixa a gente tonta. Tudo nesta vida é tão efêmero, às vezes parece que tudo não passa de ilusão, parece um filme estranho. Achamos que somos saudáveis até que deixamos de ser. Mas no meio de tanta incerteza, fica a certeza que o hoje é o que importa -- nossa saúde, nossa família, nossos amigos que mesmo longe estão sempre conosco.

May 9, 2008

Acharam meu tumor...pelo menos é o que me dizem

Depois de semanas tentando falar com as secretárias do Dr. Pawlik, que pelo jeito não sabem o significado da expressão retornar ligações, consegui entrar em contato com a Miss Simpatia esta semana. Não sei por que ainda me espanto com a falta de tato de algumas pessoas. Já passei por tanta coisa nesta vida que deveria estar acostumada. Não estou.

Depois de ligar para a criatura durante um mês -- mais de uma vez por dia -- finalmente a dita-cuja atendeu o telefone. Me identifiquei rapidamente e perguntei se ela já tinha achado meu tumor. Ela disse que sim e que o tinha encaminhado à patologia. O estranho é que um dia antes liguei para todas as "patologias" do Hospital Johns Hopkins, que não são poucas, e ninguém tinha nada meu lá. Agora é esperar para ver.

O engraçado era a reação dos funcionários do hospital: "Você é a paciente e está tentando achar o seu tumor?" Pois é, deve ter algum resquício de incompetência no caminho. Da minha parte é que não é.

Então vamos lá aguardar ansiosamente o dia 7 de julho, quando terei a minha próxima consulta com o Dr. Pawlik. Recebi uma carta ontem me informando que minha consulta tinha sido transferida do dia 30 de junho para a semana seguinte, dia 7 de julho. Não falei que estas secretárias tinham problema com telefone? Falei com as duas no mesmo dia e nenhuma me avisou da mudança. Vai entender...

May 7, 2008

Vizinha nobre

Acho que a nossa casa vai valorizar! Acabei de saber que Jenna Bush, que se casa este fim de semana no Texas, vai ser minha vizinha.

A filha de Bush dispensou o casamento na Casa Branca e optou por uma recepção ao ar livre no Texas, onde ela nasceu e cresceu. Com tanta gente que daria a vida por um casamento na Casa Branca, a americana de 26 anos disse que a Casa Branca é glamurosa demais para ela. Incrível.

Jenna vai casar com o filho do presidente do GOP ou Partido Republicano no estado da Virgínia e depois do casamento o jovem casal vai morar numa townhouse ao sul de Baltimore, pois ele vai trabalhar na Constellation Energy, a companhia de eletricidade de Maryland. Jenna vai lecionar nas escolas públicas de Baltimore. Boa sorte para ela!

O que gosto neste povo gringo é que os jovens começam onde jovens devem começar: do início. Se fosse brasileiro, a garota já ia ganhar do pai uma mansão na Quinta Avenida, ia virar consultora de algum negócio duvidoso ou então ia "fundar" uma empresa e vendê-la por zilhões de dólares depois de alguns meses.

Não sou nem um pouco fã do Bush e detesto as posições dele como presidente, mas parece que ao lado de Laura, conseguiu criar uma filha bem normal, sem afetações típicas de "crianças" ricas. Ou isso será coisa típica de pseudo-elite de Terceiro Mundo???

Mas só por via das dúvidas, eu que sou fanática por casamento, vou ficar de olho, pois acho que vai ser um luxo apesar da personalidade low-key da noiva.

May 5, 2008

Por que Nova York?

Casamento no Brooklin Botanical Garden - verão 2000 - Marisa e eu
Festa de Natal 1999 - James & Rich -- Na foto - Michele (a famosa noiva), eu e Ana.

Incríveis estas fotos. Parecem de uma outra vida... Flashback total!

Volta e meia me pergunto por que Nova York tem sempre um efeito diferente em mim. Além do encantamento que a cidade exerce sobre a maioria dos normais, Nova York me faz refletir sempre e perdida nos meus pensamentos, acabo me sentindo melhor. Acabo ficando mais próxima de mim mesma.

Esta última viagem a Nova York foi muito boa para mim. Aquela cidade me faz muito bem por vários motivos, por ser meu segundo lar, por ser lá onde está grande parte de meus amigos de longa data, por poder andar a pé e sem medo, por ser simplesmente o centro do mundo. (Sorry London, mas como Nova York não há!)

Amo Nova York por muitos motivos, mas acho que acima de tudo porque é lá que me sinto mais viva. Sempre tenho uma sensação muito estranha quando estou lá: me sinto livre, feliz e a impressão que tenho é que a qualquer momento posso encontrar a Dani de 10 anos trás correndo pela rua. E a minha vontade é abraçá-la e dizer a ela que tudo vai ficar bem no final. Que nada destes problemas idiotas que ocupam a cabeça dela valem a pena. Gostaria que ela soubesse que a vida nos reserva umas surpresas, nem sempre boas, mas que todas elas nos transformam na pessoa que queremos ser. Diria para aquela Dani guardar as suas lágrimas, pois ela ainda vai ter muitas oportunidades de derramá-las, por coisas que realmente importam. Não perca seu tempo insistindo em apostas erradas, pois a vida é muito curta e os momentos felizes preciosos demais.

Lembro que as minhas preocupações naquela época, lá nos idos dos anos 90, eram bem diferentes: Será que o carinha da semana passada vai ligar? Qual das dez festas de sábado vou acabar indo? Preciso ligar para meus 500 amigos para marcar a festa-surpresa de aniversário de um deles. Onde está meu celular? Enfim, "preocupações" mais que normais e banais para uma jovem de 22 anos. Mas tinha meus momentos de crise também. Aquela cidade é tão louca e frenética que às vezes me perguntava se não ia acabar perdendo a minha essência. Me perguntava também se no meio daquela multidão desvairada conseguiria achar e, mais do que isso, enxergar o amor da minha vida. Estas eram as minhas dúvidas naquela época. Eram estes os pensamentos que me ocupavam a cabeça enquanto caminhava a pessos rápidos pela Sétima Avenida para pegar o metrô para o trabalho. Dúvidas e reflexões que me consumiam enquanto passava minhas tardes de sábado perambulando pelo meu bairro querido, o West Village, reduto de beatniks, artisitas, velhos hippies, escritores legendários (Robert Frost e e cunnings moraram na minha rua!!!!) e meu mundo do faz de conta também.

Então quando volto para lá, sinto um déjà-vu enorme. Tudo me é tão familiar e ao mesmo tempo tão fascinante. Gosto de parar, respirar um pouco e pensar na minha vida, no quanto caminhei e no quanto lutei para estar ali. Estas útlimas semanas têm sido um pouco isto para mim: uma volta ao começo, um mergulho na minha essência, uma reconciliação com quem eu sou.

E o que parecia uma viagem fadada ao fiasco e com um enorme gosto de fracasso, se transformou em uma das melhores experiências dos últimos meses. Para mim, Nova York é sempre Nova York. E o Rio? Ah, o Rio é sempre o Rio, mas isto já é uma outra história.

May 4, 2008

Proximidade da Morte

Me parece extremamente injusto que algumas pessoas tenham que tomar ciência da morte antes mesmo de poderem entender do que se trata a vida.

A morte não deveria sequer fazer parte do vocabulário de uma pessoa com menos de 50 anos. Doença, hospital, quimioterapia, transfusão, transplante...nada disso deveria ocupar os pensamentos de um jovem.

Está na Bíblia, "crescei e multiplicai-vos", então é somente este o desejo de 99% da população humana. Este é o plano de vôo de qualquer um de nós. E temos a certeza absoluta de que se deixarmos a vida seguir seu próprio rumo vamos conseguir que isso aconteça sem o menos esforço.

Talvez aconteça para a maioria de nós, mas não para todos. Alguns aprendem cedo demais que a única coisa certa na vida é a morte e que às vezes paga-se um preço muito alto para viver. Vida nem sempre é sinônimo de alegria. Muitas vezes viver dói. Viver pode ser também apavorante e extremamente solitário, mas faz parte do instinto humano. Por mais dura que a vida possa ser, ninguém parece estar pronto para desistir dela.

Quando somos acometidos por uma doença grave a parte mais dolorosa talvez seja a aceitação da nossa própria vulnerabilidade, da fragilidade da nossa vida. É a perda da inocência; a realização de que tudo é efêmero.

Logo depois de ter alta do hospital, no final de 2002, os médicos recomendaram que eu começasse a caminhar um pouco pelas dependências do meu prédio. Precisava recuperar minhas forças e minha capacidade aeróbica depois de um mês de internação.

Eu ainda andava bastante encurvada por conta da grande cicatriz que me tomava a maior parte do abdome. Sentia dor e medo, então andava pelo play com todo cuidado, observando e sendo observada. Foi ali, naquele dia de verão ensolarado que vi todas as minhas certezas desmoronarem. Vi casais na piscina e me lembrei que ainda não tinha encontrado a minha cara-metade e não sabia se ainda me restava tempo para isso. Vi as crianças nadando e correndo, então me perguntei se algum dia teria o privilégio de formar a minha própria família, de ter meus próprios filhos. Avistei casais mais velhos de mão dadas, apoiados um no outro, andando em direção ao elevador e naquela hora perguntei a mim mesma quais seriam as minha chances de um dia viver aquela situação.

Cenas extremamente normais que teoricamente fariam parte da vida de qualquer simples mortal. Tudo tão ordinário e rotineiro que a maioria das pessoas acharia completamente banal. Mas não para mim. Fechei meus olhos e procurei me imaginar vivendo cada um daqueles momentos e naquela hora pedi a Deus que deixasse que meu desejos se transformassem em realidade.

Naquela hora, ciente da minha mortalidade, todas as certezas que havia cultivado dentro de mim, tornavam-se dúvidas. Tudo que eu achava que era meu por direito, agora estava em questão. A única certeza que tive aquela hora era de que a morte viria. Meu único pedido: não agora. Quero viver para me casar. Quero viver para ter meus filhos. Quero viver para ser feliz e envelhecer ao lado do meu marido. Não quero muito. Só quero viver.

Errata - Randy Pausch


No meu último post, disse que o livro do Randy Pausch ainda não tinha tradução para o português. Estava enganada. Não é ele foi traduzido, como em breve será lançado no Brasil com o título A Lição Final. Já está em pré-venda nas Americanas.

O livro tem dado o que falar por aqui, pois há quem diga que o jornalista e co-autor do livro se aproveitou da desgraça do professor moribundo. Discordo. Acho que o livro merecia ser escrito e se o jornalista tem o talento e disciplina para tal empreitada, melhor para o leitor. Acho que deve ter feito um bem danado para o Randy, que conversou col ele durante seus passeios diários de bicicleta pelo bairro. Não precisou ficar preso à frente do computador, privando seus filhos o a si mesmo de prazer neste dias tão preciosos. Sou suspeita, pois acho a mensagem dele linda.

Não gosto muito desta história de livro de auto-ajuda por pensar que a maioria não passa de uma grande baboseira, nada mais que um caça-níqueis, pois falar é fácil, difícil é colocar em prática. Quando se tem um diagnóstico terminal pela frente, tudo muda completamente de dimensão e é por isso que o Andy tem meu absoluto respeito.

Criticar é fácil. Já ouvi gente dizendo que o discurso dele não passa de negação. Discordo. Acho que ele tem o cérebro matemático sim e teve que ser mais racional do que nunca. A morte é certa mas os dias que se antecedem a ela não. A morte é incontrolável, mas a vida a nossa frente não. Cabe a cada um de nós, sim, escolher ser Tigre ou Eeyore. Sei que tenho meus dias de Eeyore, mas na maior parte do tempo decidi ser Tigre.

May 2, 2008

Promessa é dívida - Randy Pausch


Sei que prometi traduzir a "Última Aula" de Randy Pausch, mas o tempo é escasso e o texto longo, então traduzi o resumo da palestra. O texto foi publicado pelo Washington Post, em 6 de abril de 2008.

Vou voltar aqui para editar melhor, mas queria dividir isto com vocês o quanto antes. Leiam com atenção. É um testemunho emocionante.

Beijos,

Dani

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As Lições que Estou Deixando para Trás

Por Randy Pausch

Em muitas universidades, professores são convidados a dar uma “última aula”. Nesta conversa, eles refletem sobre o que mais importa para eles. Enquanto eles falam, a platéia se faz a mesma pergunta: Que sabedoria você deixaria para o mundo se soubesse que esta seria sua última chance?

Ano passado, concordei em dar uma última aula na Universidade Carnegie Mellon, onde sou professor no departamento de ciências da computação. Algumas semanas mais tarde, soube que tinha apesas meses de vida – estava morrendo de câncer no pâncreas.

Sabia que podia cancelar. Tenho três filhos pequenos, sou casado com Jai, a mulher dos meus sonhos, e ainda há tantas coisas a fazer. Mas falando, sabia que poderia colocar a mim mesmo numa garrafa, que um dia poderia aparecer na praia para os meus filhos, Dylan, Logan e Chloe. Aqui vai o que quero compartilhar.


Divirta-se Sempre

Antes da minha palestra, o presidente da Carnegie Mellon, Jared Cohon, me disse, “Por favor conte a eles sobre diversão, porque é por isso que vou me lembrar de você”. Cheguei a uma conclusão rapidamente. Cada um de nós deve tomar uma decisão, melhor resumida nos personagens de A.A. Milne, em Winnie-the-Pooh. Sou o Tigre que adora se divertir ou sou uma tristonha Eeyore? Minha posição é bem clara.

No meu último Halloween, Jai, nossos filhos e eu nos fantasiamos de “Os Incríveis”. Coloquei uma foto nossa no meu site e expliquei que a químio não tinha afetado meus superpoderes. Recebi emails com sorrisos como resposta.

Não vou desistir do Tigre dentro de mim. Alguém me perguntou o que quero escrito na minha lápide. Eu disse: Randy Pausch: Viveu 30 Anos Após um Diagnóstico Terminal”. Eu poderia encaixar muita diversão em 30 anos. Mas se não tiver que ser assim, vou encaixar muita diversão no tempo que tenho.


Sonhe alto

Tinha oito anos no verão de 1969, quando o homem chegou à lua. Estava na colônia de férias, nós crianças fomos levados até a casa principal para ver aquele momento na TV. Mas os astronautas estavam demorando, e estava ficando tarde. Os orientadores nos mandaram de volta às nossas barracas para dormir, e nós perdemos os primeiros passos.

Fiquei possesso. Pensei: “Minha espécie sai deste planeta e há um mundo novo pela primeira vez, e vocês aí acham que a hora de dormir ter importância?”

Quando cheguei em casa, meu pai me deu uma foto que ele tinha tirado da TV no segundo exato em que Neal Armstrong pisou na lua. Ainda temos esta foto.

Dê a si mesmo permissão para sonhar. Incentive o sonho de seus filhos também. De vez em quando, isso pode significar deixá-los acordados depois da hora.


Peça o que deseja

Numa viagem à Disney World, meu pai e eu estávamos no monorail com meu filho Dylan, então com quatro anos. Dylan queria sentar na cabine da frente com o motorista, e meu pai achou que seria legal também.

“Pena que eles não deixam qualquer pessoa sentar lá,” meu pai disse.

“Na verdade, aprendi que há um truque para se sentar lá na frente,”eu disse. “Quer ver?”

Caminhei até o atendente e disse: “Com licença. Será que poderíamos sentar no carro da frente, por favor?

“Certamente,” disse o atendente. Ele nos levou até a cabine da frente. Foi uma das únicas vezes que vi meu pai sem palavras. “Falei que era um truque,” disse a ele. “Não falei que era um truque complicado”.

Agora me tornei melhor ainda em “só pedir”. Como todos sabemos, pode-se levar dias para receber resultados de exames médicos. Não quero passar meu tempo esperando, então pergunto: “Quanto antes posso receber estes resultados?”

“Oh,” eles normalmente respondem, “talvez possamos dá-los a você em uma hora”.

Peça. Mais do que você imagina, a resposta que você vai ouvir é “Claro”.


Ouse arriscar

Num curso de realidade-virtual que ministrei, encorajava os alunos a tentar coisas difíceis sem se preocupar com fracasso. No final do semestre, dei um pingüim de pelúcia – “O Primeiro Prêmio Pingüim”— à equipe que apostou mais alto sem alcançar seu objetivo. O prêmio veio da idéia de que quando os pingüins pulam na água onde pode haver predadores, bem, um deles tem que ser o primeiro pingüim. Essencialmente, foi uma prêmio por um “glorioso fracasso”.

Experiência é o que você ganha quando não consegue o que quer. E isto pode ser a coisa mais preciosa que você tem a oferecer.


Procure o melhor em todo mundo

Recebi este conselho de Jon Snoddy, meu herói na Disney Imagineering. “Se vicê esperar o bastante,” ele disse, “as pessoas vão surpreender e impressionar você”. Quando você fica frustrado com as pessoas, quando você está zangado, pode ser porque você ainda não os deu tempo suficiente. Jon me alertou que isto necessitava de muita paciência, talvez anos. “No final,” ele disse, “as pessoas vão te mostrar o lado bom delas. É só ficar esperando. Ele aparece.”


Encontre tempo para o que importa

Quando Jai e eu saímos em lua-de-mel, queríamos ficar sozinhos. Como meu chefe exigia uma forma que as pessoas pudessem entrar em contato comigo, gravei este recado. “Oi, aqui é o Randy. Esperei até os 39 anos para casar, então minha esposa e eu vamos viajar por um mês. Espero que isso não seja um problema para você, mas é para o meu chefe. Aparentemente, tenho que estar disponível”. Então dei os nomes dos pais da Jai e a cidade onde eles moravam. “Se você ligar para a operadora, você consegue o telefone deles. E então, se você conseguir convencer meus sogros de que a sua emergência merece interromper a lua-de-mel da única filha deles, eles têm nosso telefone”. Não recebemos nenhum telefonema.

Tempo é tudo que você tem. E você pode descobrir um dia que você tem menos do que imagina.


Deixe as crianças serem elas mesmas

Por eu ser tão franco sobre meus sonhos de infância, as pessoas me perguntam sobre os sonhos que tenho para os meus próprios filhos. Como professor, já vi como pode ser perturbador quando os pais têm sonhos específicos para seus filhos. Minha tarefa é ajudar meus filhos a cultivar uma alegria de viver e desenvolver mecanismos para satifazer seus próprios desejos. Meus desejos para eles são bem exatos e, considerando que não vou estar presente, quero ser bem claro: Filhos, não tentem descobrir o que eu queria que vocês fossem. Quero que vocês sejam o que vocês quiserem. E quero que vocês sintam como se eu estivesse aí com vocês, qualquer que seja o caminho escolhido.

Tradução livre do texto publicado na revista Parade, do Washington Post, em 6 de abril de 2008. O artigo em inglês é uma adaptaçao do livro The Last Lecture, de Randy Pausch e Jeffrey Zaslow, recém-lançado nos EUA e ainda sem tradução para o português.

Minha nova rotina






Olhando a foto aí de cima já dá para ter uma idéia da minha nova "vida corporativa". O Blake, organizado que só, já montou um escritório para mim no andar de cima, mas nos meus primeiros dias, a minha cozinha acabou virando local de trabalho.

Hoje completo uma semana na minha nova rotina. Além de ser repóter financeira, agora trabalho de casa. Isso mesmo, meu escritório fica a uns 20 passos da minha cama! Brinco com o Blake que sou a única executiva que se apronta para o trabalho na véspera, quando saio do banho e coloco um pijama cheirosinho, antes de dormir. Como a Jackie bem disse, sou mais uma executiva de pijama! Meu ternos são bem comfortáveis, de flanela, de oncinha, verdinho, rosinha... Uma maravilha.

Sei que só faz uma semana, mas até que estou gostando, tenho que admitir. Cold calling, ou seja, ligar para estas empresas do nada, ainda me deixa um pouco apreensiva, mas é só conseguir o CEO na linha que tudo fica ótimo. Coversar com gente inteligente sempre me faz bem e aos poucos vou desenvolvendo minha metodologia própria. Por enquanto já inventei a minha primeira regra: jamais entrevistar CEOs com menos de 45 anos. Estes caras são simplesmente insuportáveis. A grande maioria é estressadíssima, egocêntrica e pedante. Eu, sinceramente, não tenho paciência para isso. Prefiro os CEOs/CFOs mais velhos e mais experientes que sabem exatamente o que estão falando. Menos trabalho pra mim, que não preciso tentar tirar leite de pedra.

Comecei este trabalho com os dois pés atrás, já que detesto finanças e sempre tive verdadeiro desprezo por estes "tipos". (É claro que sempre há exceções e alguns grandes amigos meus habitam este mundo, mas a maioria deste povo não me interessa nem um pouquinho.) Gosto de conversar com o pessoal de biotecnologia, cientistas e empresários que além de superinteligentes têm um ideal que não serve apenas o prórpio bolso, então sempre que posso, vou atrás deles. Gosto de gente que me serve de inspiração.

Este novo "gig" (que é a gíria americana equivalente à brasileira "trampo") tem me surpreendido bastante, pois depois de tanto tempo acabei descobrindo que ainda existe uma repórter xereta dentro de mim. Meus texto têm saído muito bons e feito meus editores felizes, uma boa massagem no meu ego, que estava mais que necessitado.

Bom, fico por aqui, pois tenho que acabar outra matéria. Hoje entrevistei o CEO e fundador da Neat Receipts, uma empresa superbacana que desenvolveu um scanner "inteligente" que transfere toda a informação das suas notas fiscais para uma planilha excel. Não é o máximo? Até eu estou pensando em virar cliente.

Como diz o Blake, que sabe não consigo tirar ainda mais vantagem deste emprego... Trabalhar de pijama, comer em casa e economizar o dinheiro da gasolina -- nada mal.