"As pessoas tem medo de falar comigo. Olham para mim e não sabem o que dizer", queixa-se Allison. "Dizem que estou ótima, que estou aceitando a minha sentença bem demais," ela continua.
"Melhor assim," respondo. "Só você sabe como está se sentindo. Não sinta-se obrigada a assumir um papel só porque é isto que os outros esperam de você."
"Ele agora chegou ao meu cérebro," Allison solta esta bomba no meio da conversa numa tarde ensolarada e quente, na cozinha de uma casa linda em Washington. "Nem os médicos esperavam por isto. Não sabemos mais o que fazer. O pior desta espera é que ninguém sabe qual será o próximo passo da doença."
Por um segundo, tudo parece parar...nem o burburinho das pessoas na festa de autógrafos, nem as lambidas de Cesar, o labrador dos donos da casa, nem o cheiro delicioso de quiche...tudo parece sumir de repente. Levo um choque.
Respiro fundo e digo para mim mesma "Pense rápido, pense rápido, mas não diga besteira. Olho a minha amiga nos olhos e digo para ela "O importante é que nos dias que te restam você está fazendo tudo aquilo que tem vontade. Você está vivendo a sua vida do seu jeito e só isto já é uma grande vitória."
Ela me olha com um sorriso agradecido e responde: "Você tem razão, estou fazendo todos os dias contarem. Semana que vem vou realizar meu sonho de conhecer Montana, um lugar lindo, cheio de natureza. Quer mais limonada? Vou pegar mais um vinho pra mim," Allison muda logo de assunto, como se tivesse falado a coisa mais simples do mundo, e segue em direção a mesa.
Ela devia estar se sentindo sufocada com o peso da notícia recebido dias antes. Não há protocolo ou manual de boas maneiras sobre como dar notícias ruins ao amigos, ainda mais quando se trata da sua própria morte iminente.
Suspiro e mais uma vez peço a Deus que torne a jornada da minha amiga um pouco menos penosa. Peço a Ele que já que a cura milagrosa não chega que Allison possa ter serenidade e um pouco de felicidade no pouco tempo que lhe resta.
1 comment:
Essa foi profunda.
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