Uma das coisas que mais admiro na sociedade americana é o engajamento social. As pessoas aqui arregaçam as mangas e não esperam que o Governo lhes diga o que fazer, muito pelo contrário, tomam a iniciativa e depois exigem que o Governo apoie. Mobilizam seus representantes, fazem lobby, pressão, campanha pelos seus direitos e assim conseguem mover montanhas. Aqui a gente v6e a todo momento que a união faz a força mesmo!
Confesso que admiro esta garra e que morro de inveja também. Queria que as coisas acontecessem do mesmo jeito no meu país, mas por mais contraditório que possa parecer, sou muito cética quando a questão são as ONGS brasileiras. Não vou dizer que não acredito em nenhuma porque seria uma afirmação leviana, mas que acho que tem muito diretor de ONG picareta, acho sim! Sei que há ONGs que fazem trabalhos de primeiro mundo, como o GRAACC e Pró-Criança Cardíaca, mas as manchetes de jornal sempre me deixam com o pé atrás quando penso em ONGs em geral.
Mas voltando ao envolvimento da sociedade civil americana, ontem fui convidada para o cocktail de aniversário do Ulman Fund e depois de pensar um pouco, aceitei o convite. Não sou muito chegada a este tipo de evento, ainda mais quando vou sozinha. Prefiro coisas mais íntimas, com no máximo 20 ou 30 pessoas, onde você realmente conversa com alguém e chega a saber alguma coisa relevante sobre esta pessoa. Detesto esta troca de cartões instantânea, porém tão instituída na nossa cultura corporativa moderna. Mas se no passado a simples idéia de ir a um evento e não conhecer ninguém me deixava em pânico, com o passar dos anos e devido às inúmeras obrigações do trabalho, hoje acho esta situação apenas chata. Topei mesmo porque queria ver e conhecer melhor a organização.
Chegando lá não me decepcionei. Cá entre nós, americano sabe bem montar um show. O lugar era lindo, um centro de artes de uma faculdade local estalando de novo e havia muita coisa interessante: silent auction (um leilão aberto, onde as pessoas colocam seus lances numa folha de papel), música ao vivo, muita comida, bebida e um monte de gente bem vestida e tipos corporativos, coisa que ainda não tinha visto muito por aqui.
Depois do cocktail, fomos todos para um teatro onde assitimos a performance de uma cantora cujo nome me escapa, mas que foi revelada no American Idol, e a premiere do episódio do programa de TV Deserving Design. O bacana deste programa é que Vern Yip, o arquiteto e apresentador, seleciona pessoas muito boas de coração e refaz um cômodo na casa delas. No episódio de ontem, ele acabou refazendo a sala e o quarto de uma moça de 26 que perdeu parte da visão aos 10 por causa de uma doença chamada retinite e anos depois teve câncer. Superou as duas doenças com um belo sorriso no rosto e hoje termina seu PhD em Emory University, onde trabalha com pesquisas para HIV e Aids. Impressionante!
O programa foi muito bonito, as histórias lindíssimas, mas o que mais me impressionou foi o comprometimento de tantas pessoas ali reunidas. Gente que abriu a carteira e tirou vinte mil ou dez dólares, mas abriu seu coração para uma causa tão nobre. O próprio designer Vern Yip criou há anos uma bolsa de estudos para estudantes universitários cujas vidas tenham sido impactadas pelo câncer, no papels de paciente ou de familiar. Que forma mais linda de manter a memória da mãe, que morreu de câncer, viva!
Não me lembro de ter visto nada parecido no Brasil. Não é da nossa cultura, você leitor deve estar dizendo. Mas aí eu pergunto, não é por que? Não é porque amamos menos nossas mães ou porque não desejamos preservar a memória de entes queridos ou fazer o bem a que merece... Então por que será? Por que será que não nos juntamos assim para chamar atenção para uma causa tão importante? Esta doença terrível, que não poupa ninguém, não vai embora tão cedo. A bem da verdade em 2010 vai ser o maior responsável por mortes neste planeta!!! Hoje o câncer já mata mais do que malaria e aids juntas! E cada vez mais jovens vão ter que aprender a lidar com esta doença. Ninguém sabe o porquê.
Só no cocktail de ontem, eles arrecadaram seguramente mais de $20 mil dólares, num evento onde praticamente tudo foi doado: o local, o buffet, as bebidas e todos os prêmios. Mais do que isto, ontem também soubemos que o Presidente Obama emitiu pedidos de propostas para pesquisas e estudos focados em populações jovens e câncer, pela primeira vez na história.
No final da noite, Doug Ulman, que começou tudo isto há 11 anos na mesa de jantar de sua casa depois de saber que tinha melanoma, disse uma coisa que me tocou demais. Ele disse que o que mais o comove são as cartas, telefonemas e emails de jovens que estão espalhados pelos quatro cantos do país lutando contra uma doença tão covarde, mas que se mantém fortes e enfrentam um problema enorme com um sabedoria que vai muito além dos anos de vida... E concluiu dizendo que se a fundação fosse capaz de oferecer apoio e manter a esperança e o espírito de luta de cada um destes jovens vivos, ela já teria cumprido seu papel com louvor.
Fiquei feliz em ver que os jovens americanos tem este apoio tão importante...e muito triste em pensar que no meu país eles ainda vivem em morrem sozinhos.
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