Sei que é o maior chavão do mundo dizer que a doença me trouxe muitas coisas boas e me fez ver o mundo de uma forma diferente, mas isto é a mais absoluta verdade. Com esta experiência única aprendi muito sobre mim, mas o melhor de tudo foi ter aprendido mais sobre o ser humano. Vi meus amigos com outros olhos. Vi a bondade de estranhos e o medo de não tão estranhos assim. Reforcei laços antigos e fiz outros novos. Mudei. Prefiro achar que foi para melhor. Tive sorte.
Outro grande privilégio foi o de conhecer pessoas facinantes que jamais teriam cruzado meu caminho, se não fosse por um pequeno acidente de percurso chamado hepatocarcinoma fibrolamelar, também conhecido como câncer primário do fígado. Estas pessoas tem histórias de vida fascinantes e se à primeira vista nossas vidas podem parecer tão diferentes, basta olhar para dentro de cada um de nós para ver que somos extremamente parecidos.
Dizem que os sobreviventes de guerra se sentem assim, que tem um laço muito profundo por terem vivido coisas terríveis juntos. Os pacientes que enfrentam o câncer tem características parecidas. Apesar de terem lutado em fronts diferentes e cada um a frente de seu exército, as cicatrizes das batalhas são muito semelhantes, mais ainda se os combatentes tem idades próximas. O enredo é sempre o mesmo, íamos vivendo a nossa vida, até que chegou a convocação para a luta. Não sabíamos mas o alistamento era compulsório. De um dia para o outro arrumamos nossas malas e embarcamos numa jornada que iria nos modificar para sempre.
Não sei como o tal tumor "brotou" em mim e acho que jamais vou descobrir. Não o quero de volta em minha vida em hipótese alguma, mas não tenho como negar que apesar de assutador e doloroso, ele foi a melhor coisa que me aconteceu, pois me forçou a olhar para dentro de mim e ver quem eu era de verdade. E quando a visão não me agradou nem um pouco, me apressei logo em mudar, pois vi que a vida é curta e preciosa demais para ser desperdiçada. Sempre disse aos médicos que me considerava feliz por ter enfrentado um problema tão sério tão jovem pelo simples fato de que me restariam muitos anos para implementar todas as lições aprendidas e viver mais feliz comigo mesma.
Esta é só uma parte da história. O outro lado, bem mais sombrio, só fui descobrir quando me vi às voltas com a doença de novo. Tive medo, muito medo. Não estava preparada para o contra-ataque. Não sei se já me recuperei do susto; para ser sincera não sei se a gente se recupera de um susto destes. Só sei que estou determinada a conviver com ele e viver a minha vida da melhor forma possível, pois esta foi a grande lição que ficou.
3 comments:
Dani, minha mae tb passou uma situacao parecida... ficou na UTI e quase perdeu a batalha... Gracas a Deus ela esta aqui conosco, mas ela diz a mesma coisa que vc.
bjs
http://digital.estado.com.br/home.aspx
saiu uma matéria no Estadão de hj sobre cancer e adolescentes. Lembrei de vc na hora...talvez aí esteja seu público alvo!
(sou leitora quietinha e admiro a força comovc encara o asunto)
Val,
Obrigada pelo link! Que bom que estão olhando a questão com mais atenção. Aqui os adolescentes são agrupados com os jovens adultos (entre 19 e 39 anos), o que eu acho que funciona melhor.
Beijos e obrigada pelo carinho.
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